terça-feira, 6 de setembro de 2016

Jazigo de Alice Moderno e de Maria Evelina de Sousa

Por proposta do BE autarquia recupera de Sousa em homenagem ao seu legado



28 JUNHO 2013

Por proposta do BE aprovada ontem em reunião da Assembleia Municipal de Ponta Delgada, a autarquia vai proceder à recuperação do jazigo de Alice Moderno, no Cemitério de São Joaquim, e acrescentar o nome de Maria Evelina de Sousa à placa identificativa, ajudando assim a preservar e dignificar a intervenção cívica e a coragem destas mulheres, pioneiras na luta pelos direitos das mulheres, e pelo respeito pelos animais, entre outras conquistas.
Recomendação apresentada pela deputada municipal do BE, Vera Pires:
Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa, escritoras, pedagogas e verdadeiras activistas, desenvolveram ao longo de toda a vida intensa intervenção cívica em Ponta Delgada.
Admiradoras de Antero, foi ao lado de Teófilo Braga e de Manuel de Arriaga que fizeram parte do movimento republicano, e com Ana de Castro Osório e Olga Morais Sarmento, entre outras, contribuíram para o surgimento do movimento feminista em Portugal.
Defenderam o direito das mulheres à educação e ao trabalho e colaboraram em campanhas pelo divórcio e pelo sufrágio universal.
A defesa da democratização da educação fez de Alice Moderno a primeira mulher a frequentar o Liceu de Ponta Delgada (hoje Escola Secundária Antero de Quental). Maria Evelina é a fundadora da primeira biblioteca anexa a uma escola primária (a de Santa Clara, que dirigia) e Alice Moderno a autora do hino à escola micaelense. Ambas fundaram, dirigiram e colaboraram em diversos periódicos onde abordavam as temáticas dos direitos civis, da justiça social, da emancipação da mulher e dos direitos dos animais.
A preocupação com o bem-estar e a protecção animal, aliada à sua constante actividade de intervenção cívica levou-as a fundar a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais (SMPA).
Em testamento, Alice Moderno destinou parte dos seus bens à construção de um hospital veterinário público que pudesse cuidar gratuitamente dos animais necessitados. O Hospital Veterinário Alice Moderno foi construído em 1948, dois anos após a sua morte, tendo sido dirigido pela SMPA. Com o desaparecimento gradual da SMPA, a manutenção e investimento no hospital foram decrescendo.
A arrematação dos bens de Alice Moderno tornou possível a criação da Casa do Gaiato, nas Capelas, garantindo ao concelho de Ponta Delgada um local de abrigo e acolhimento a jovens privados do seio familiar.
Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa morreram com exactamente 8 dias de diferença, em 1946. As duas mulheres, que viveram dedicadas a contribuir para uma sociedade mais justa e igual, estão sepultadas no Cemitério de S. Joaquim de Ponta Delgada, num jazigo mandado construir por Alice Moderno ainda em vida, que apresenta agora um estado de grande degradação.
A intervenção cívica e a coragem destas mulheres, pioneiras na luta pelas causas mencionadas, merecem ser conhecidas e divulgadas. Elas merecem o nosso reconhecimento e admiração.
Pelo exposto, a representação municipal do Bloco de Esquerda Açores propõe a esta Assembleia Municipal a seguinte recomendação à Câmara Municipal de Ponta Delgada:
- Que a CMPD proceda à recuperação do mencionado jazigo edificado no Cemitério de S. Joaquim, recuperando também a placa identificativa de Alice Moderno e acrescentando o nome de Maria Evelina de Sousa, ajudando deste modo a preservar e dignificar a vontade e a memória destas cidadãs ilustres do concelho de Ponta Delgada.
Fonte: http://acores.bloco.org/noticias/por-proposta-do-be-autarquia-recupera-jazigo-de-alice-moderno-e-maria-evelina-de-sousa-em-h

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Alice Moderno, a política e os políticos (2)


Alice Moderno, a política e os políticos (2)

Hoje, dá-se continuidade ao texto publicado na semana passada sobre a ação política de Alice Moderno que foi muito mais modesta do que a sua amiga, a professora Maria Evelina de Sousa.

Sobre os políticos, a propósito de José Bensaúde (1835-1922), distinto e culto industrial e lavrador de origem judaica, que ensinava as operárias da sua fábrica a ler, Alice Moderno escreveu: “alheio à bisca política de nacionalistas, regeneradores e progressistas, todos eles muito boas pessoas na oposição”.
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Alice Moderno, que nasceu em 1867, teve a oportunidade de viver e assistir à queda da monarquia, saudar o advento da República e “aderir de alma e coração ao partido republicano”, segundo Maria da Conceição Vilhena, e passar os últimos anos da sua vida, primeiro sob a Ditadura Militar e depois sob o Estado Novo.

Como já referimos na primeira parte deste texto, até ao momento, não encontramos qualquer informação ou documento que confirme a participação de Alice Moderno na vida interna de qualquer partido, o que é público é a sua defesa do regime republicano no seu jornal “A Folha”, mesmo após algumas deceções que lhe causaram algumas medidas tomadas pelos republicanos no poder.

Entre Junho de 1918 e Maio de 1925, publicou-se em Ponta Delgada o semanário republicano “A Pátria” que, entre outros, teve como diretores José da Mota Vieira e António Medeiros Franco. De entre os colaboradores do jornal contaram-se Alice Moderno e a professora Maria Evelina de Sousa, também republicana convicta.

Através dos números do jornal a que tivemos acesso, desde o primeiro até ao publicado a 16 de junho de 1924, concluímos que o contributo de Alice Moderno foi bastante modesto, tendo-se limitado à publicação de dois poemas, “4 de Julho”, no número 6, datado de 11 de julho de 1918, e “Resposta de Roosevelt”, no número 10, datado de 8 de agosto de 1918, que abaixo se transcreve:

Quando foram dizer ao grande ex-presidente
Que o seu filho mais novo, ainda adolescente,
Tenente-aviador do exército da América,
Recebera no front a morte heroica e épica
Que consagra os heróis, no solo o mais sagrado,
Lutando em prol do Ideal, agora espezinhado
Pelo militarismo, a contrapor afeito
O direito da força à força do Direito,
Roosevelt respondeu, com voz que não tremia:
“Minha mulher e eu sentimos alegria
Ao ver que o nosso filho, única e simplesmente,
Cumprindo o seu dever, honrou a pátria ausente!”

Sem comentário algum, dobremos o joelho,
E ó pais de Portugal, vede-vos neste espelho!


Defensora da autonomia, Alice Moderno defendia que os deputados deviam ser naturais de cada círculo por conhecerem melhor as realidades locais e os governadores civis deviam ser estranhos às ilhas para não se deixarem influenciar e dominar pelos senhores locais.

Após a queda da Primeira República, em 1926, não conhecemos qualquer intervenção política de Alice Moderno que, a 4 de março de 1927, numa carta a Ana Castro Osório, escreveu o seguinte: “Eu, pela minha parte, estou absolutamente desinteressada da política”

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 31018, 24 de agosto de 2016, p.16)

Foto: Por FDR Presidential Library & Museum - CT 09-109(1), CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=47600299