segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O Correio dos Açores e os poetas zoófilos


Notas zoófilas (25)

O Correio dos Açores e os poetas zoófilos

Nas pesquisas que temos vindo a efetuar sobre o tema da proteção dos animais, encontrámos no jornal Correio dos Açores em 1933 e em 1935 uma rubrica intitulada “Poetas Zoófilos” que poderá ter sido coordenada por Alice Moderno.
Entre os poetas que foram selecionados temos Gomes Leal, autor de “O bicho da seda e o verme”, Paulino de Oliveira que escreveu “As olaias e as cigarras”, Espínola de Mendonça autor de “A uma criança que maltratou um cão”, Louis Pergaud que escreveu “Les gardiens”, Luís Cebola, autor de “Dois amigos” e de “Burro velho”, Teixeira de Pacoaes autor de “Buda” e Alice Moderno que escreveu três sonetos com o tema “Fiel companheiro” e outro sobre “A Toutinegra”.
Dos autores referidos dois são açorianos, Espínola de Mendonça, natural de Ponta Delgada, e Alice Moderno, natural de Paris e que viveu primeiro na ilha Terceira e depois em São Miguel.
Termino esta nota transcrevendo o poema de Espínola de Mendonça publicado neste mesmo jornal a 9 de julho de 1933.

A Uma criança que maltrata um cão

Não maltrates o cão. Tem caridade
com o pobre animal.
Ele é tão nosso amigo e, na amizade,
ninguém é mais leal.

Se o malvado lhe inflige algum castigo,
a essa ingratidão
quantas vezes responde o cão amigo,
vindo beijar-lhe a mão!

E essa amizade pela vida fora
é sempre firme, pura.
E os amigos volúveis vão-se embora
nas horas de amargura.

Ele é tão nosso amigo! E a humanidade
nem sempre é como o cão!
Dispensa-lhe carinho, e, por piedade,
Não o maltrates, não.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30836, 19 de janeiro de 2016, p.13)