segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Divergências


Divergências na SMPA sobre a função de uma associação protetora de animais

A nota de hoje surge dada a necessidade de esclarecer que as associações protetoras dos animais agrupam pessoas com opiniões muito diversas sobre a vida em sociedade e mesmo sobre a proteção animal pelo que no seio delas a diversidade deve ser respeitada e ninguém deve submeter-se a qualquer pensamento único. Além disso, as associações não podem transformar-se em seitas, seguindo putativos “mestres”, devendo, pelo contrário, funcionar com o máximo de democraticidade interna, o que no mínimo exige a realização de assembleias gerais ordinárias anuais e extraordinárias sempre que a vida interna assim o exija.

Para além da democraticidade interna que implica a prestação de contas a todos os que de uma maneira ou outra contribuem para a manutenção das associações, não vejo qualquer problema no surgimento de mais associações ou grupos de afinidade já que assim será mais rico e diversificado o contributo para o combate para uma sociedade mais humana.

A questão sobre o que deve fazer uma associação e as divergentes respostas à mesma, não é de agora, tendo também surgido na SMPA-Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, onde apareceram duas opiniões diferentes, mas não incompatíveis, a de Alice Moderno e a do Marquês de Jácome Correia.

O senhor Marquês de Jácome Correia, tanto em alguns textos publicados no Correio dos Açores como numa reunião da direção da SMPA, defendeu que a proteção dos animais devia incidir na divulgação de práticas de preceitos higiénicos e sanitários, auxiliando assim as autoridades sanitárias locais.

Alice Moderno discordou, tendo afirmado que, embora não desmerecendo a iniciativa do Sr. Marquês de Jácome Correia, cujas qualidades ela por diversas vezes já tinha elogiado, a orientação da sociedade não poderia ser alterada sem que houvesse primeiro uma alteração dos seus estatutos.

E qual era, para Alice Moderno, a orientação da SMPA?

“Estabelecer um Posto Veterinário, para início do qual se encontram depositados 2000$00 escudos na Caixa Económica da Associação de Socorros Mútuos de Ponta Delgada, evitar que os animais domésticos sejam martirizados, desenvolver no público o sentimento da piedade para com os seres que não podem apelar para as leis que os protegem, porque não sabem falar nem escrever, deve, ser segundo o meu critério e de vários membros da Sociedade com quem tenho trocado impressões o fim da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, como é, aliás, a finalidade de todas as associações congéneres.

Apesar de ter sido escrito em 1937, continua atual.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30792, 24 de novembro de 2015, p.14)

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (7)


Fedora Miranda


Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (7)

Tendo conhecimento de que a Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada ia “habilitar-se ao recebimento dos bens de que era usufrutuária o sr. Victor Moderno, há tempos falecido em New York”, a presidente da SMPA, Fédora Serpa de Miranda, redige a 6 de Março de 1954, um ofício dirigido ao Presidente da Comissão Executiva da Junta Geral, onde faz o ponto da situação e apela à construção do Hospital.
Dado o interesse da carta, aqui fica um extrato: “Está já edificado um pavilhão, destinado à recolha e tratamento de cães e gatos, mas faltam as instalações para outros animais e mesmo para consultas a dar pelos veterinários, e por esse motivo vimos respeitosamente patentear a V. Exª o nosso desejo de que, por essa Exma. Comissão Executiva, seja considerada a efetiva construção do Hospital Veterinário “Alice Moderno”, estabelecimento de grande interesse para esta Sociedade e para quantos cuidam da dignificação do homem, através do bom tratamento dos animais”.
Desconhece-se por quanto tempo Fédora Miranda esteve à frente dos destinos da SMPA, mas sabe-se que em 1954 ela teve de acompanhar o marido, o professor do Liceu Antero de Quental, Dr. Lúcio Miranda, que se exilou em Inglaterra, tendo, no seu regresso, em 1964, para assistir à morte da mãe sido presa no aeroporto de Santa Maria.
A 1 de fevereiro de 1963, a SMPA estava inativa como se pode ler pelo depoimento do Comandante dos Bombeiros Voluntários Roberto Zagalo Cardoso a propósito de uma descida ao Caldeirão para resgatar alguns cães que para lá eram atirados por desumanos. Segundo ele aquela ação surgiu na sequência de um apelo de Manuel Inácio de Melo e “à recordação de uma antiga vizinha deste Quartel- D. Alice Moderno – cuja campanha zoófila recordo ainda com enternecimento, pois fiz parte da antiga Associação Protetora dos Animais, infelizmente, julgo que extinta”.
Através do cartão de uma associada que nos foi apresentado, ficamos a saber que em agosto de 1982 era presidente da SMPA Victor Pedroso e à direção pertencia Gilberto Olegário Baptista que assinou o referido cartão pelo secretário da direção.
No final da década de oitenta do século passado, a sociedade possuía cerca de 600 sócios com as quotas em dia, tendo-se a partir daí assistido ao seu declínio.
Em maio de 1993, o jornal Correio dos Açores, num artigo intitulado “Para os matar?? Câmara à espera de cães vadios”, deu a conhecer a preocupação da Câmara Municipal de Ponta Delgada com o grande número de cães vadios existentes no concelho, tendo a autarquia informado que estava a tomar medidas “em sintonia com outros organismos, concretamente a Sociedade Protetora dos Animais e a PSP”.
A última aparição pública da SMPA terá sido em Maio de 2009, através de um comunicado a condenar “a iniciativa de alguns deputados regionais no sentido de introduzirem nos Açores as chamadas “corridas picadas”, uma vez que tal espetáculo, degradante e medieval, nada tem a ver com a nossa cultura e tradições, para além de constituir um péssimo cartaz turístico para a região”. No mesmo texto a SMPA apelava “aos senhores deputados para não aprovarem uma tal legislação, utilizando o seu tempo e energias na resolução de assuntos mais prementes para a maioria dos Açorianos”.
Desaparecidos os problemas associados ao transporte de cargas, hoje a atenção deverá recair sobre o abandono de animais domésticos, o tratamento dos animais de produção e o retrocesso civilizacional que se está a assistir com a tentativa de introduzir touradas onde não são tradição e de agravar a tortura dos touros bravos.
Face ao exposto e em virtude da prática demonstrar que as associações animalistas não têm capacidade de crescer, agregando mais vontades, e estender a sua atividade para outros animais para além dos de companhia não é descabido o ressurgimento ou a reativação da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais.
Com este texto e por falta de informações disponíveis, termino a série dedicada à Sociedade Micaelense Protetora dos Animais. Espero, um dia, voltar ao assunto.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30781 de 11 nov 2015, p.17)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Para a história da SMPA


Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (6)

A 11 de Junho de 1938, o Correio dos Açores noticiou que em virtude de queixas apresentadas pela SMPA-Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, estavam presos um indivíduo das Calhetas que maltratou um cão e outro dos Fenais da Luz que havia atirado uma cabra do alto de uma rocha, provocando a morte do animal. Na mesma notícia é referido que o Secretário da SMPA havia feito “apreensões de aguilhões” e advertido “alguns condutores, cujos veículos eram deslocados por animais chagados” e que a SMPA havia fornecido ao posto zootécnico “vomitivos, clorofórmio e algodão hidrófilo”.
A 16 de Setembro de 1938, morre Alfredo da Câmara. A direção da SMPA, através de anúncio publicado no dia seguinte, no Correio dos Açores, convidou “todos os seus consócios a incorporarem-se no préstito fúnebre que acompanhará à sua última morada o seu prestante colega, sócio fundador da mesma agremiação”.
Em 1941, segundo o “Correio dos Açores”, de 8 de Março, com a devida autorização da Junta Geral e a solicitação da SMPA, o Posto Zootécnico de Ponta Delgada, passou a receber todos os animais feridos ou doentes encontrados na via pública que podiam ser entregues a qualquer hora do dia, pois no mesmo pernoitava um guarda.
A 14 de Maio de 1941, o Correio dos Açores, noticiava a abertura para breve de um Posto Veterinário que passaria a funcionar no Posto Zootécnico, dirigido pelo Dr. Vitor Machado Faria e Maia.
A SMPA colaborou com o referido posto através da oferta de medicamentos e da cedência de algum mobiliário.
Ainda de acordo com o que se pode ler na notícia referida, os tratamentos eram pagos, mas os sócios da SMPA tinham direito a desconto.
Em 1941, a SMPA subsidiava “monetariamente alguns animais abandonados, que tem sido necessário hospitalizar e a que é preciso fornecer alimento, enquanto não se lhes dá destino adequado”.
A 16 de Janeiro de 1944, realizou-se uma Assembleia Geral da SMPA, na sede da Associação dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada, cedida para o efeito pelo seu comandante, o sr. Eduíno Geraldes Botelho.
De acordo com notícia publicada no Correio dos Açores de 24 de Janeiro de 1945, no ano anterior, 1944, o Posto Veterinário, que funcionava numa dependência do Posto Zootécnico, tratou 685 (seiscentos e oitenta e cinco) animais.
Ainda de acordo com a mesma notícia, a direção da SMPA encontrava-se a “reunir fundos suficientes para a construção de um Hospital Veterinário, e das quotas pagas pelos sócios fornecia os medicamentos solicitados pelo Dr. Vitor Faria e Maia para colmatar as necessidades do Posto Veterinário, para além de subsidiar o enfermeiro-veterinário em serviço no Posto, o sr. Moniz Berenguer. Estava a cargo da SMPA a recolha e o envio ao posto dos animais doentes ou feridos encontrados na via pública.
Em Agosto de 1945, ter-se-á realizado a última reunião assistida por Alice Moderno, com a presença de Olga Amélia Lima, Francisco Silveira Rodrigues, José Soares de Albergaria e Luciano Mota Vieira e Maria Evelina de Sousa, em representação de Oliveira S. Bento, na qual foi debatido o problema que preocupou a sociedade desde o início, o peso excessivo da carga que os animais eram obrigados a suportar.
Em 1948, quando entrou em funcionamento nas instalações do Posto Zootécnico o denominado Hospital Alice Moderno, faziam parte dos órgãos sociais Fedora Serpa Miranda, presidente da direção, Luciano de Rezende Mota Vieira, Francisco Silveira Rodrigues, Maria da Conceição Sequeira de Medeiros Gonçalves, Maria Eduarda Câmara Ataíde Mota, António de Lemos Alves de Sousa Gomes, Jacinto Viveiros, Victor da Silva Pedroso e Manuel Albano Botelho de Medeiros.

(Continua)

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30757, 14 de outubro de 2015, p.11)

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (5)




Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (5)

Na reunião de 5 de maio de 1935 da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, também, foram eleitos os membros dos órgãos sociais cuja composição passou a ser a seguinte:
Direção- Presidente, D. Alice Moderno; tesoureiro, João Leocádio Oliveira; secretário, Gil Afonso de Andrade Botelho; vogais, Dr. Aires S. d’Albergaria Tavares Silva, Breno de Vasconcelos, Cícero de Medeiros, Dr. José Jacinto Pereira da Câmara, Dr. Manuel da Silva Carreiro, Francisco Paula Nogueira Reis e João Bento.
Direção (substitutos) – Presidente, D. Maria Evelina de Sousa; tesoureiro, Dr. Victor Machado Faria e Maia, secretário, Dr. Alberto Paula de Oliveira; vogais, Francisco Carlos da Silveira Martins, António da Costa, José da Câmara Velho Melo Cabral, Manuel Ferreira de Almeida, Dra. D. Maria Macedo e D. Olga Amélia Lima.
Assembleia Geral – Presidente, Aires Jácome Correia; vice-presidente, Ruy Tavares do Canto; 1º secretário, Horácio Teves; 2º secretário, Luís Quintino Berquó de Aguiar; 1º vice-secretário, José Joaquim do Couto Santiago; 2º vice-secretário, Francisco de Araújo.
Conselho Fiscal- Presidente, Urbano Carreiro; secretário, José da Silva Alves; vogais, Artur Frederico Silva, Dinis José da Silva e João da Costa Benevides.
Júri- Presidente, Eduardo Soares de Albergaria; Relatores, Alfredo da Câmara, Eugénio Botelho da Câmara, Dr. Fernando Marques Moreira, José Peres Maldonado Jr., João Maria Sequeira e Manuel Joaquim de Matos.
Através do jornal Correio dos Açores de 26 de setembro de 1935, o presidente da delegação da SMPA, de Rabo de Peixe, alertou a autoridade policial para o facto de na localidade continuarem “os maus tratos aos animais domésticos, transitando pela mesma numerosos pequenos veículos, tirados por animais das espécies caprina e ovelhuns, obrigados, sob grossa pancadaria, a deslocar pesos muito superiores às suas forças”.
A 5 de Janeiro de 1936, realizou-se a Assembleia Geral da SMPA, presidida por Alice Moderno, devido à ausência por motivos de saúde do presidente da Assembleia Geral, Marquês de Jácome Correia.
Na reunião, entre outros, falou Maria Evelina de Sousa que lamentou a ausência de muitos associados e propôs votos de louvor ao Sr. Comandante da Polícia Distrital, Manuel Magro Romão, ao sr. Breno Dias de Vasconcelos que substituiu como secretário o sr. Gil Afonso Botelho e aos diretores dos jornais “sempre prontos a coadjuvar, por meio da mais esclarecida propaganda, a ação da sociedade na defesa dos direitos dos nossos irmãos inferiores”.
Na referida reunião foram eleitos os novos corpos gerentes, cuja composição passou a ser a seguinte:
Direção (efetivos) - Presidente, D. Alice Moderno; Secretário, Breno de Vasconcelos, tesoureiro, D. Maria Evelina de Sousa; vogais, D. José de Oliveira San Bento, José Rebelo de Bettencourt, João Bento da Silva, Francisco Silveira Rodrigues e Manuel Inácio de Melo.
Direção (substitutos) – Presidente, Gil Afonso de Andrade Botelho; tesoureiro, D. Maria Luísa Soares de Albergaria Leite Ataíde, secretário, Dr. Clemente Soares de Medeiros; vogais, João Domingues Vieira de Faria, Clemente de Vasconcelos, Horácio Silveira, Manuel Soares Brandão, Raul Pons e Mariano Marcelino Cabral.
Assembleia Geral – Presidente, Aires Jácome Correia; vice-presidente, Ruy Tavares do Canto; 1º secretário, Diogo Ivens Tavares; 2º secretário, José Joaquim do Couto Santiago; 1º vice-secretário, Victor da Silva Pedroso; 2º vice-secretário, D. Hortense Morais.
Conselho Fiscal- Presidente, Capitão Luís Faria e Maia da Cunha; secretário, José Soares de Albergaria; vogais, Carlos Faria e Maia de Aguiar, Jaime Nobre de Oliveira e Dr.ª Maria de Macedo.
Júri- Presidente, Dr. Guilherme Fisher Berquó Poças Falcão; Secretário, D. Maria Evelina Faria e Maia de Aguiar; Relatores, Dr.ª D. Maria Joana de Freitas Peeira, D. Olga Amélia de Lima, Dr. Tito Pires Coelho, D. Maria José Caupers Faria e Maia, António Torres, Manuel José Martins e José Pacheco de Melo.
(Continua)

(Correio dos Açores, 30 de setembro de 2015)

Teófilo Braga

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Alice Moderno em exposição


Notas Zoófilas (9)

Alice Moderno em exposição

“ Dos seus sentimentos de bondade fala eloquentemente a sua ação não só dentro da benemérita Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, mas também na imprensa, onde frequentemente a pena elegante da srª D. Alice Moderno firmava artigos na defesa vigorosa e inteligente daqueles seres, amigos e companheiros do homem que este, na sua ignorância e ingratidão, tantas vezes maltrata” (João Anglin)

No passado dia 25 de setembro, na sala de exposições da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, foi inaugurada a exposição Alice Moderno (1867-1946): cidadania e intervenção.

A exposição, que surgiu na sequência de uma sugestão do Coletivo Alice Moderno, é uma iniciativa da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta, tendo sido realizada por Ana Cristina Pereira, Iva Matos e Rute Gregório, sendo esta última também responsável pela sua coordenação.

Conhecida pela sua dedicação à causa da defesa animal, Alice Moderno foi uma das fundadoras, em 1911, da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais e sua presidente e principal dinamizadora, desde 1914 até à data da sua morte, em 1946.

No seu labor em defesa dos animais, Alice Moderno não fazia distinções. Com efeito, para além de solicitar às autoridades a criação de legislação que proibisse determinadas práticas que causavam sofrimento e que cuidassem ou modificassem o piso das ruas para facilitar o trabalho dos animais de tiro, denunciou o uso e abuso de aguilhadas, a sobrecarga que vitimava principalmente bois e cavalos, o uso de cabras e ovelhas para puxar carroças, que acabou por ser proibido por lei, a venda por farmácias de estricnina que era usada para matar os cães abandonados, os maus tratos que sofriam os bovinos nas festas do Espírito Santo, o sofrimento dos touros e dos cavalos nas touradas, que ela abominava, e a morte à paulada dos ouriços-cacheiros por parte sobretudo dos rapazes mas também por adultos nas freguesias rurais que ela para os salvar comprava para depois soltar no quintal.

Mas, Alice Moderno não se dedicou apenas à causa animal. Ela, que para sobreviver teve de trabalhar arduamente, pois não herdou nenhuma fortuna, também abraçou outras causas, que estão mencionadas nos vários painéis que integram a exposição, a saber: a instrução/educação, as letras, onde se inclui a poesia, o teatro e o romance, o jornalismo, de que se destaca a fundação, direção e redação do jornal “A Folha”, onde ela dá voz a diversas correntes de pensamento inovadoras e progressistas, o feminismo, onde, para além da luta pela emancipação da mulher, defende a participação cívica da mesma na vida social, a participação política que a desencantou já que muitas das promessas da República não passaram disso mesmo e, por último, o apoio aos mais carenciados que ela, contrária à “caridadezinha”, sempre o fez.

A exposição, que merece a visita de todos os interessados em conhecer a vida e a obra de uma mulher que lutou incansavelmente por uns Açores melhores para todos os seus habitantes, humanos ou não, estará aberta ao público até ao dia 16 de abril de 2016.

Teófilo Braga

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Sentenças contra animais


Notas Zoófilas (8)

Sentenças contra animais

As atitudes e comportamentos humanos não evoluem ao ritmo do desenvolvimento da ciência e da técnica. Assim, muitos dos problemas que afligem a humanidade só não são debelados por não haver um envolvimento cívico por parte das populações e por não existir vontade política por parte dos governantes, a todos os níveis.

No que diz respeito ao relacionamento dos (ditos) humanos com os animais a sensação que se tem é que hoje não há grandes diferenças em relação ao que se passava no passado. Assim, no que diz respeito aos maus tratos, a luta dos nossos antepassados continua a fazer sentido hoje pois aqueles continuam.

O combate de Alice Moderno e de outros, em São Miguel, contra o abandono de animais, pela criação de um hospital veterinário para tratar animais vítimas de abandono e de cuidadores sem posses e contra as abomináveis touradas, ainda faz todo o sentido.

Contudo, se pesquisarmos o passado, verificamos que houve alguma evolução, muito lenta para o nosso gosto. A título de exemplo, apresenta-se a seguir algumas sentenças proferidas contra os animais, que possivelmente faziam sentido na época e no contexto em que foram proferidas, publicadas a 25 de abril de 1840, no jornal Panorama, do distrito de Aveiro:

1120- Toupeiras e lagartas excomungadas por um bispo

1386- Porca mutilada e depois enforcada em virtude de ter despedaçado um menino;

1394- Porco enforcado por ter morto uma criança;

1488- Os vigários de uma determinada localidade ordenaram aos curas das freguesias para notificarem os gorgulhos para que deixassem de fazer estragos durante as missas e procissões, sob pena de excomunhão;

1499- Touro condenado à forca por ter morto um mancebo;

1554- Sanguessugas excomungadas por um bispo porque destruíam os peixes.

Hoje, sem qualquer condenação os touros das touradas de praça, depois de divertirem os assistentes, são mortos e também acabam por ser mortos a maioria dos cães que atacam e ou matam crianças.

Neste último caso, tal como em muitos da vida em sociedade, nunca se combatem as causas. Assim, permite-se que pessoas sem quaisquer condições, aqui não está em causa o estrato social, possuam animais que são mantidos em condições deploráveis, tolera-se e nada se faz para acabar com a reprodução de animais que vão acabar nos canis de abate, certificados ou não, e fecha-se os olhos ou fomentam-se algumas formas de maus tratos a animais.

Teófilo Braga
Correio dos Açores, 30738, 22 de setembro de 2015, p.13)

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Exposição


Nota de imprensa

A Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada inaugura, no próximo dia próximo dia 25 de setembro, pelas 18h00, a exposição Alice Moderno (1867-1946): cidadania e intervenção.
A presente exposição pretende evocar o nome desta mulher exemplar, única no seu tempo, cujo quadro de ação e intervenção na comunidade, para além de vasto, deixou marcas significativas até aos nossos dias. Professora, poetisa, jornalista, mulher de negócios, feminista, protetora dos animais, benemérita, voz crítica na esfera política, Alice Moderno foi uma mulher de convicções, lutas e ruturas, em períodos da história portuguesa nos quais o género feminino permanecia muito marcado por uma cultura de gineceu. De primeira jovem mulher a frequentar o Liceu de Ponta Delgada a professora dedicada e reconhecida, de escritora de vários géneros literários à fundadora e diretora de dois jornais, mas também da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, de mulher com forte intervenção cívica à gestora plurifacetada e bem-sucedida, esta exposição pretende projetar Alice Moderno nas vertentes que mais a distinguiram e mais marcas deixaram na comunidade e na documentação. Graças aos estudos realizados por Maria da Conceição Vilhena, mas também às cartas escritas a Joaquim de Araújo (n.1858-m.1917), aos artigos de jornais que assinou, aos poemas e escritos diversos, é possível hoje evocar esta mulher independente, multifacetada, frontal, comprometida com os outros e com a justiça, capaz de enfrentar críticas, hostilidades e contextos particularmente difíceis para o seu e para qualquer tempo.
Esta exposição estará patente na ala de exposições da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, no piso 0, de 25.09. 2015 a 16.04.2016.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (4)



Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (4)

Em janeiro de 1934, realizou-se uma Assembleia Geral da SMPA- Sociedade Micaelense Protetora dos Animais onde foram eleitos os corpos sociais, tendo a sua composição sido a seguinte:
Direção- Presidente, D. Alice Moderno; tesoureiro, João Leocádio Oliveira; secretário, Gil Afonso de Andrade Botelho; vogais, Amâncio Joaquim da Rocha, Dr. Aires S. d’Albergaria Tavares Silva, Cícero de Medeiros, Dr. José Jacinto Pereira da Câmara, José Rebelo Bettencourt e Dr. Manuel da Silva Carreiro.
Direção (substitutos) – Presidente, D. Maria Evelina de Sousa; tesoureiro, Dr. Victor Machado Faria e Maia, secretário, Dr. Alberto Paula de Oliveira; vogais, Francisco Carlos da Silveira Martins, João Bento S. Silva, José da Câmara Velho Melo Cabral, Manuel Ferreira de Almeida, Dra. D. Maria Macedo e D. Olga Amélia Lima.
Assembleia Geral – Presidente, Aires Jácome Correia; vice-presidente, Ruy Tavares do Canto; 1º secretário, Horácio Teves; 2º secretário, Luís Quintino Berquó de Aguiar; 1º vice-secretário, José Joaquim do Couto Santiago; 2º vice-secretário, Francisco de Araújo.
Conselho Fiscal- Presidente, Urbano Carreiro; secretário, José da Silva Alves; vogais, Artur Frederico Silva, Dinis José da Silva e João da Costa Benevides.
Júri- Presidente, Eduardo Soares de Albergaria; Secretário, João Cândido Borges; Relatores, Alfredo da Câmara, Eugénio Botelho da Câmara, Dr. Fernando Marques Moreira, José Peres Maldonado Jr., João Maria Sequeira e Manuel Joaquim de Matos.
Na mesma reunião foram aprovados votos de louvor a Alice Moderno, a Gil Afonso Botelho e ao Marquês de Jácome Correia.
A 25 de agosto de 1934, o Correio dos Açores regista “a justíssima homenagem prestada à sra. D. Alice Moderno” por parte da Direção da Sociedade Protetora dos Animais, de Lisboa, ao conferir-lhe a medalha de prata daquela instituição. Tal facto deveu-se “não só à sua exemplaríssima dedicação pelos animais, mas também pela propaganda jornalística” a favor da causa zoófila.
No dia 22 de outubro de 1934, faleceu João Cândido Borges, agricultor e “negociante honesto e perfeito homem de bem”. Segundo Alice Moderno foi “sócio fundador da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, a cujas sessões ordinariamente assistia”.
No final de 1934, o senhor Agostinho Machado Bicudo Correia legou à SMPA 758$02 que foram depositados na Caixa de Crédito Micaelense. Com aquele legado o saldo da associação passou a ser de 2458$02, destinando-se à manutenção de um posto veterinário “quando o permitirem os respetivos juros”.
Em 31 de dezembro de 1934, de acordo com Alice Moderno, as contas da SMPA apresentavam um saldo positivo de 3055$79. Num texto publicado no Correio dos Açores de 15 de Maio de 1935, Alice Moderno explica que os principais contribuintes naquele ano foram “a menina D. Margarida da Cunha Álvares Cabral e o sr. Dr. Guilherme Poças Falcão que entregaram 100$00 cada um, a primeira para o fundo da Sociedade e o segundo como quota anual”.
Em 1935, a SMPA tinha 43 sócios contribuintes, variando o valor das quotas entre os 5$00 e os 200$. No ano mencionado, foram os seguintes os sócios que contribuíram com quotas superiores ou iguais a 50$00: Alice Moderno, Guilherme Berquó Poças Falcão, Marquês de Jácome Correia, Engº. E. Smith e Maria Luísa Leite de Ataíde.
A 5 de maio de 1935 reuniu a Assembleia Geral da SMPA sob a presidência do Marquês de Jácome Correia, sendo secretários Gil Afonso Botelho e Breno Dias de Vasconcelos.
Na reunião referida foi debatida a necessidade da implementação de uma “larga” campanha, na imprensa, em defesa dos animais, bem como aventada a necessidade da angariação de fundos com vista à criação de um posto de socorros.
(Continua)
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30733, 16 de setembro de 2015, p12)

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Aires Jácome Correia e a SMPA


Aires Jácome Correia

A SMPA-Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, tal como infelizmente todas as outras instituições, deveu a sua vida pelo menos nos primeiros anos a um número restrito de associados de que se destacaram Alice Moderno, Maria Evelina de Sousa e Aires Jácome Correia.

Aires Jácome Correia (Lisboa, 9 de agosto de 1882 – Genebra, 21 de outubro de 1937) foi um rico proprietário e um grande filantropo tendo abraçado várias causas, de que destacamos o fomento da instrução dos mais desfavorecidos, o desenvolvimento cultural e económico dos Açores e a proteção dos animais.

No que diz respeito à proteção dos animais, Aires Jácome Correia (Marquês de Jácome Correia) foi durante muitos anos Presidente da Assembleia Geral da SMPA, tendo colaborado nos jornais locais com textos relativos ao assunto.

A título de exemplo, recorda-se um texto seu, datado de 18 de agosto de 1935, publicado no Correio dos Açores, onde elogiou a criação de “uma comissão local de vigilância na freguesia de Rabo de Peixe” e enumerou alguns exemplos positivos que eram dignos de serem divulgados, como o surgimento de “resguardos contra o calor e contra os insetos nos animais de tiro e de montada”, a “adoção de animais vadios” e os “cuidados extremos para aliviar os pesos ou as opressões causadas pelos veículos e arreios”.

No mesmo texto, o Marquês de Jácome Correia torna pública a sua preocupação pelo combate à mosca que, para além de prejudicar a economia, era também transmissora de infeções entre os animais”

A 5 de abril de 1936, o Correio dos Açores, publicou um texto de Aires Jácome Correia intitulado “O carácter dos animais”. Nele o autor dá a conhecer, com algum pormenor, o Sul, um cão que lhe fora oferecido por um caseiro e que lhe era extremamente fiel.

A razão para ter adotado o animal é digna de ser divulgada, pois hoje muitas vezes não se quer um animal de companhia, exige-se um de uma determinada raça para exibir um estatuto (social) que não se tem perante os outros. O Marquês foi bem claro quando escreveu que se afeiçoou ao cão, não “pela sua beleza ou aspeto físico” (não via, sendo o olho “ uma massa vítrea sem expressão, fosca e ensanguentada”), mas pelo seu instinto moral”.

Num outro texto, datado de 26 de maio de 1936, o marquês Jácome de Correia escreveu sobre a missão da SMPA, referindo a indiferença manifestada pela maioria da população em relação a ela. Por último, apelou à participação nos seguintes termos: “As pessoas que se interessam por eles nas suas conveniências caseiras dariam um grande exemplo inscrevendo-se na Sociedade que precisa de Capital, trabalhando n’essa grande obra de zoofilia e que indiretamente procura exercer uma influência positiva na proteção dessas espécies domésticas”.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30720, 1 de setembro de 2015, p.12)

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Apontamentos sobre a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (3)


Apontamentos sobre a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (3)

No dia 5 de novembro de 1914, em reunião de direção da SMPA foi deliberado elevar o Marquês de Jácome Correia, à categoria de sócio protetor pelo facto de haver concedido à Associação o subsídio anual de cem escudos”. Na mesma reunião foi decidido “mandar imprimir os diplomas, cujo modelo desenhado pelo sr. Constâncio Gabriel da Silva é do mais artístico que no género temos visto”.
Num texto publicado no Correio dos Açores, nodia 24 de junho de 1920, Luís Arruda escreve sobre a necessidade de ser criada em Ponta Delgada uma Sociedade Protetora dos Animais porque a que existiu terá morrido. Segundo ele, os principais problemas eram os maus tratos que eram infligidos aos cães vadios, “os abusos dos aguilhões que não são próprios da época que atravessamos” e o espicaçar de burros com navalhas, os quais mostram que “se o mundo civilizado avança dia-a-dia velozmente no campo da Sciencia…não avança a civilização humana”.
A 8 de julho de 1920, o Correio dos Açores noticiou que vários alunos do Liceu inscreveram-se na SMPA e que os mesmos pretendiam organizar festas públicas para angariar fundos para a criação de um asilo e posto veterinário.
No mesmo texto, a SMPA para além de apelar à entrada de novos associados, refere os locais onde as inscrições podiam ser feitas: Estabelecimentos dos senhores José Cláudio de Sousa e Cª, Ernesto Augusto Xavier, Viriato Manuel Pereira, Jacinto Botelho Moniz e José Inácio Ferreira e nos escritórios de Alice Moderno, Augusto da Silva Moreira, Fernando d’Alcântara, António Agreli Teves e Carlos d’Assis Toucedo.
A 7 de Julho de 1931, reuniu a Comissão Reorganizadora da SMPA composta pelo Dr. Aires Tavares da Silva, D. Alice Moderno, Gil Afonso Andrade Botelho, Dr. José Jacinto Pereira da Câmara, Dr. Manuel da Silva Carreiro, D. Maria Evelina de Sousa, Marquês de Jácome Correia e Dr. Victor Machado Faria e Maia com o objetivo de eleger uma nova direção e estudar os meios a usar para intensificar a proteção aos animais.
Na mesma reunião foram trocadas impressões sobre a reorganização da SMPA e foi prestada homenagem aos sócios instaladores, em especial a Alice Moderno.
No dia 23 de Abril de 1933, reuniu, na casa de Alice Moderno, a direção da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais para “deliberar sobre assuntos urgentes”. De acordo com o jornal Correio dos Açores, do dia 25 do mesmo mês, um dos assuntos eram as touradas com touros de morte. Na ocasião foi lido um ofício da Sociedade Protetora dos Animais de Lisboa a solicitar a colaboração da SMPA no sentido de pedir ao governo para que “não permita o estabelecimento neste país dos touros de morte. Ficou acordado enviar um telegrama “ao sr. Presidente do Ministério, manifestando a S. Exa o quanto magoaria a sensibilidade dos amigos dos animais a introdução de tão bárbaro divertimento, e quão deprimente seria para a civilização portuguesa o conhecimento do mesmo perante o mundo culto”.
Na mesma reunião foi decidido nomear, a título póstumo, o sr. Agostinho Machado Bicudo Correia como sócio honorário. O senhor Agostinho Correia, falecido a 30 de março de 1933, havia legado à SMPA a importância de 1000$00 (escudos insulanos).
Por último, foi também decidido solicitar à Junta Geral de Ponta Delgada, a cedência de uma dependência do Posto Zootécnico desta cidade em que pudessem ser alojados o mobiliário da Sociedade e respetivo arquivo, e também do local onde pudesse ser instalado o Posto Zootécnico”.
A SMPA denunciou, através do Correio dos Açores de 15 de Setembro de 1933, o caso de dois mendigos, um deles muito míope que se faz passar por cego e uma cega que por vezes se apresentava embriagada, que se fazem acompanhar por um cão que puxa uma carroça. O animal “não raras vezes, cai, esfalfado, por não poder, como é natural, com a carga!”
De acordo com a nota as pessoas em questão só não entram na cidade de Ponta Delgada por causa da vigilância da SMPA. Face a esta situação, a SMPA interroga-se se “não existem, nas vilas e freguesias rurais, autoridades que olhem pelo cumprimento das posturas municipais?” e apela “a todas as pessoas de coração, pedindo-lhes que, sempre que pelas localidades onde residem, passe o cão martirizado e os seus algozes, se dirijam à autoridade local, a fim de serem punidos, como merecem, os delinquentes”

(continua)
Teófilo Braga
Correio dos Açores, 1 de setembro de 2015

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Apontamentos sobre a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (2)


Apontamentos sobre a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (2)

A 14 de Novembro de 1912, a Revista Pedagógica publicou um texto onde o seu autor dá a conhecer que a SMPA já estava a cobrar as quotas dos seus associados e que a sede da mesma continuava a ser nas instalações dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada até à sua passagem para a rua da Fonte Velha.
Em reunião que se terá realizado no mês de novembro de 1912 (C.A., 28 de novembro de 1912) foram admitidos 15 associados. Na mesma reunião, foi decidido oficiar à Câmara Municipal de Ponta Delgada “a regulamentação das carroças puxadas por carneiros” e “oficiar à corporação competente para que seja modificada a rampa no início da rua dos Mercadores, rampa que é um verdadeiro tormento para os pobres animais”.
A 26 de Junho de 1913, a SMPA, através da Revista Pedagógica, divulga algumas das diligências que tem efetuado junto de diversas entidades, nomeadamente com vista a regular a tração animal de ovelhas e cabras e a modificar a “rampa sita no cimo da rua dos Mercadores desta cidade e que constitui um verdadeiro martírio para os pobres animais que por ali transitam”.
A Folha, de 29 de Junho de 1913, noticia que, após diligências efetuadas pela SMPA, a Câmara Municipal de Ponta Delgada decidiu criar “uma nova postura proibindo que carneiros e animais congéneres sejam considerados como de tiro”.
Os primeiros três anos de vida da SMPA foram de quase apatia. De acordo com Maria da Conceição Vilhena, no seu livro “Alice Moderno, a Mulher e a Obra”, muito pouco foi feito e tanto o primeiro presidente, António José de Vasconcelos, como o segundo, Tibúrcio Carreiro da Câmara, terão manifestado falta de iniciativa e entusiasmo.
Com a presidência de Alice Moderno, a partir de 1914, a vida da SMPA alterou-se por completo, tanto no que diz respeito à tomada de medidas conducentes a acabar com os maus tratos de que eram alvo os animais usados no transporte de cargas diversas, nomeadamente os que transportavam beterraba para a fábrica do açúcar, à educação dos mais novos, através do envio de uma comunicação aos professores “pedindo-lhes para que, mensalmente, façam uma prelecção aos seus alunos, incutindo no espírito dos mesmos a bondade para com os animais, que não é mais do que um coeficiente da bondade universal” e à criação de condições para o seu funcionamento, como foi a aquisição de uma sede e mobiliário.
No dia 25 de Março de 1914, no palácio do Governo Civil reuniu-se a direção da SMPA, com a presença do Marquês de Jácome Correia, presidente da Assembleia Geral, com o chefe do distrito, Dr. João Francisco de Sousa, que deu a conhecer “O projeto do Regulamento Policial, cuja introdução foi da autoria de Alice Moderno, que definirá os direitos dos sócios e os deveres dos agentes da autoridade”.
Na mesma reunião foi decidido “alugar um escritório e adquirir mobiliário próprio”, tendo ficado responsáveis por tratar destes assuntos Alice Moderno e Jaime César Maggioli, respetivamente, presidente e secretário da direção. Foi decidido ainda inaugurar a sede, localizada na rua Pedro Homem, nº 15, rés-do-chão, no dia 1 de Abril, data em que se iria realizar uma reunião ordinária da direção.
No dia 2 de abril de 1914, segundo “A Folha” do dia 5 do mesmo mês, por proposta de Alfredo da Câmara, vogal da direção, a SMPA decidiu nomear como seu membro honorário o senador Nunes da Matta que havia apresentado uma proposta de lei que se destinava a declarar de utilidade pública as associações de proteção das árvores e dos animais”.
A direção da SMPA, segundo A Folha de 19 de abril de 1914, decidiu agradecer à Associação de Bombeiros Voluntários a “cedência da secretaria do quartel de Bombeiros para as suas reuniões ordinárias e extraordinárias, enquanto a sociedade não teve sede própria”.
Na mesma reunião foi decidido oficiar a todos os professores “pedindo-lhes que mensalmente façam aos seus alunos uma preleção sobre os direitos que os animais têm a ser bem tratados pelos homens”. Também, foi deliberado “oficiar às autoridades administrativas civis e militares, pedindo-lhes que …incutam nos seus subordinados a mesma doutrina”.
(continua)
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30709, 19 de agosto de 2015, p.12)

terça-feira, 11 de agosto de 2015


A PROPÓSITO DOS 148 ANOS DO NASCIMENTO DE ALICE MODERNO


A 11 de agosto de 1867, há cento e quarenta e oito anos, nasceu, em Paris, Alice Augusta Pereira de Melo Maulaz Moderno, uma das fundadoras da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais e sua presidente entre 1914 e 1946, ano do seu falecimento, em Ponta Delgada.

Esquecida durante muito tempo, nos últimos anos o seu nome voltou a ser falado quando algumas pessoas voltaram a interessar-se pela sua vida e obra e começaram a estudá-la e a divulgar a sua obra.

De entre as suas facetas, a que mais tem despertado o interesse é a de defensora dos animais. Assim, como forma de a homenagear surgiu, um coletivo, que se propõe “refletir para apresentar propostas de um ponto de vista científico, ético, social e político no que respeita à relação da sociedade com os animais, através da dinamização de atividades essencialmente no concelho da Ribeira Grande e de apoio e divulgação de ações de movimentos a nível local, regional, nacional e internacional, que tenham em foco o fomento do respeito e proteção animal”.

Depois de uns primeiros tempos com alguma atividade, com destaque para sensibilização em escolas, devido, essencialmente, à dispersão dos seus membros a atividade do Coletivo Alice Moderno reduziu-se, estando inativo há algum tempo.

No passado dia 6 de Maio, o Governo Regional dos Açores lançou o denominado “Projeto Alice Moderno” que parece não passar “de uma campanha regional de sensibilização contra o abandono e maus tratos a animais de companhia”, o qual até agora não foi além da colocação de alguns “outdoors” e na distribuição de cartazes por algumas entidades que estiveram expostos durante muito pouco tempo ou que viram ser colocada outra informação por cima dos mesmos ao fim de poucos dias.

Se o projeto não passar disso, sabe a muito pouco e não corresponde ao aspirado por Alice Moderno: a criação de um hospital para tratamento de animais de companhia e outros animais..

A menção a outros animais surge neste texto para relembrar, a alguns governantes e não só, que Alice Moderno não fazia discriminação de animais, já que para além de se preocupar com cães e gatos, também comprou ouriços-cacheiros para os libertar, livrando-os da morte certa, e odiava touradas pois também sentia compaixão pelos touros torturados e, sobretudo, pelos cavalos.

Por último, tendo em conta que têm de ser os cidadãos a pressionar os senhores que temporariamente exercem o poder para que sejam implementadas políticas corretas com vista a um tratamento humanitário dos animais, a notícia que mais gostava de receber era a da reativação da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30702, 11 de agosto de 2015, p.12)

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Notas Zoófilas 1 - Uma explicação prévia


Uma explicação prévia

Na passada semana, terminei uma série de cem textos sobre plantas com referências ao seu uso atual e no passado, nomeadamente na medicina popular dos Açores.
Hoje, começo uma nova série, no Correio dos Açores, dedicada à promoção do bem-estar animal e à defesa dos direitos dos animais, não esquecendo todos os que a título individual ou integrados em associações formais ou informais dedicam parte do seu tempo livre e alguns recursos a defender todos os seres vivos que connosco partilham a vida na Terra.
Não seria difícil escolher um título original para esta coluna semanal, mas optei, como forma de homenagear aquela que terá sido a pessoa que, nos Açores, mais se dedicou à causa animalista, Alice Moderno, retomar o que ela usou neste mesmo jornal, entre 23 de junho de 1935 e 18 de novembro de 1943.
O trabalho de Alice Moderno e dos principais colaboradores da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, instituição criada em 1911, como Maria Evelina de Sousa e o Marquês de Jácome Correia insere-se no movimento que, segundo alguns autores surgiu na transição do século XIX para o século XX e que segundo Alexandra Amaro e Margarida Louro Felgueiras “desafiou a visão hegemónica antropocêntrica, obteve a criação das primeiras áreas protegidas e organizou-se em associações de cidadãos, inquietos com o sofrimento animal, orientadas para a proteção, prestação de assistência e defesa dos animais não humanos, procurando melhorar as condições em que eram mantidos, pela implementação de várias medidas: aprovar leis de proteção animal, desenvolver projetos para educar a população em geral e sensibilizar as crianças, ajudar a suprimir os maus tratos e promover a adoção de boas práticas na relação quotidiana com os referidos seres vivos.”
Para terminar esta pequena nota introdutória, transcrevo o conceito de maus tratos para Sociedade Protetora dos Animais do Porto, segundo os seus estatutos de 1911:
“a privação de limpeza, alimentos, ar, luz e movimento em relação às leis naturais e sociais da saúde pecuária; o trabalho excessivo sem descanso ou transporte de cargas excessivas; o obrigar a levantar os animais que caíam com chicotadas; a exposição ao calor ou ao frio excessivo; a aplicação de instrumentos que causassem feridas; a utilização no trabalho de animais feridos ou famintos; o transporte de animais para alimentação em condições geradoras de sofrimento; a manutenção de animais fechados sem que possam respirar ou movimentar-se, sem comida ou água; o depenar e esfolar animais vivos ou o seu abate através de métodos que provoquem sofrimento; a engorda mecânica de aves; o atiçar de animais uns contra os outros ou contra pessoas; a exibição de animais magros em sítios públicos; o abandono na via pública de animais domésticos feridos ou cansados; a destruição de ninhos; o cegar de aves canoras; o atar aos animais objetos que os enfureçam ou causem sofrimento; o queimar com água ou materiais inflamáveis; o lançamento em casas de espetáculos de pombas ou outras aves; a prática de diversões que causem ferimentos ou morte e ainda, a implementação de qualquer ação violenta que conduza a sofrimento por diversão ou maldade.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30696, 4 de agosto de 2015, p.12)

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Apontamentos sobre a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (1)




Apontamentos sobre a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (1)

De acordo com o jornal “A Folha”, a 26 de Novembro de 1908, a convite da redação do mesmo, realizou-se uma reunião com a participação de representantes do Diário dos Açores e da Revista Pedagógica. Na reunião, os presentes decidiram elaborar os estatutos de uma Sociedade Protetora de Animais e após a aprovação destes fazer o convite a todos os interessados para adesão à associação. Na mesma reunião, Alice Moderno sugeriu que fosse cunhada “uma medalha que servisse de distintivo aos sócios, tendo verso e anverso, e apresentando num a cabeça de um cão da Terra Nova, e no outro a de um boi, com as seguintes legendas, num dos lados: Sociedade Protetora dos Animais Micaelense, 1908, e no outro: Pelos nossos irmãos inferiores…”
Um texto, da autoria de João Anglin, publicado no Jornal Vida Nova, em 15 de agosto de 1910, que foi transcrito por Alice Moderno no seu jornal A Folha, fez despertar as consciências para retomar os trabalhos de construção do que viria a ser a SMPA-Sociedade Micaelense Protectora dos Animais.
Maria Evelina de Sousa, na Revista Pedagógica, de 6 de outubro de 1910, dá a conhecer o facto de membros da imprensa local estarem a preparar a fundação de uma sociedade protetora dos animais por ser “uma inadiável necessidade humanitária e social”. No mesmo texto, acrescenta: “Pela nossa parte já alguns trabalhos encetamos, os quais tivemos de suspender, por falta de coadjuvação da parte dos restantes membros da comissão”.
A 27 de Abril de 1911, a Revista Pedagógica informa a criação para breve da SMPA, tendo já sido elaborados os estatutos, por Maria Evelina de Sousa, diretora daquela Revista, que tiveram como modelo os da Sociedade Protectora dos Animais de Lisboa. “O Sr. Henrique Xavier de Sousa, que é um calígrafo muito hábil” ficou incumbido “de os copiar em conformidade com a lei”.
Na primeira reunião, realizada a 23 de Maio de 1911, na sede dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada, assistiram um representante de cada uma das seguintes publicações: Diário dos Açores, O Correio Micaelense, Revista Pedagógica, A Persuasão e A Folha, bem como Amâncio Rocha, Fernando de Alcântara, Henrique Xavier de Sousa e Manuel Botelho de Sousa.
Legalizada a SMPA, a 13 de Setembro de 1911, foram seus fundadores: Caetano Moniz de Vasconcelos (governador civil), Alfredo da Câmara, Amâncio Rocha, Augusto da Silva Moreira, Fernando de Alcântara, Francisco Soares Silva (diretor do jornal anarquista Vida Nova), José Inácio de Sousa, Joviano Lopes, Manuel Botelho de Sousa, Manuel Resende Carreiro, Marquês de Jácome Correia, Miguel de Sousa Alvim, Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa. De entre estes, destacaram-se pelo seu empenho na criação da sociedade, Maria Evelina de Sousa que se responsabilizou por toda a parte burocrática e Augusto da Silva Moreira que adiantou a verba necessária para o arranque.
A 4 de Setembro de 1911, a Revista Pedagógica dá a conhecer, publicamente, a aprovação dos estatutos da SMPA, “por alvará do Exmo. Senhor Caetano Moniz de Vasconcelos, ilustre Governador Civil de Ponta Delgada”.
A 5 de outubro de 1911, a Revista Pedagógica publica o seguinte anúncio da SMPA a solicitar propostas para a impressão dos estatutos: “Os membros desta associação recebem propostas para a impressão de 500 exemplares dos seus estatutos. Deverão estes ser em 8º de papel almaço, tendo cada exemplar 20 páginas e capas em papel de cor. As propostas deverão ser enviadas até 31 de outubro em carta fechada à delegada da Comissão Fundadora. Maria Evelina de Sousa.
A 18 de Abril de 1912, a Revista Pedagógica publicava uma lista de pessoas que já haviam aderido à SMPA bem como pago as suas quotas. Foram elas: D. Adelaide Serpa Afonso, Alexandre de Sousa Alvim, D. Alice Moderno, Armando Raposo d’Oliveira, Caetano Moniz de Vasconcelos, Carlos Augusto Faria, Evaristo António Afonso, Francisco António Raposo de Medeiros, Francisco do Rego Silva Pontes, D. Honorina A. Pacheco Raposo, Jacinto Botelho Moniz, João Amaral, João Cândido Borges, João Inácio Pacheco Leal, João Martins Botelho, João Soares Figueiredo, José Augusto Correia e Silva, José Domingues, José Inácio de Sousa, Manuel Pacheco da Costa Cabral, Manuel Pereira Cabral, D. Maria da Conceição Vasconcelos Borges de Andrade, D. Maria Emília Borges de Medeiros, Maria Evelina de Sousa, D. Maria Isabel Botelho da Câmara, Dr.ª Maria Joana Pereira, D. Maria Margarida Pereira da Ponte Silva, D. Maria Romana da Horta Vieira, D. Palmira Noronha de Ornelas Bruges, Tibúrcio Carreiro da Câmara.
(continua)
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30691, 29 de junho de 2015)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A propósito do Caldeirão


A propósito do Caldeirão

Desde 1981, ano em que estava a trabalhar na ilha Terceira e entrei em contato com a associação Os Montanheiros, que tenho interesse por tudo o que diz respeito à espeleologia, entendida quer como “ramo da ciência que se dedica ao estudo de cavidades subterrâneas” quer como atividade de exploração de grutas e algares.
Tentando seguir as pisadas daquela associação terceirense, primeiro a título individual, em conjunto com alguns amigos e familiares, e depois integrado na associação Amigos dos Açores, tentei fazer um redescobrimento das cavidades vulcânicas da ilha de São Miguel que culminou com um trabalho de campo exaustivo, no primeiro semestre de 1988, o qual deu origem a um relatório/comunicação que foi enviado ao “5th International Symposium on Vulcanospeleology” que se realizou no Japão.
No referido relatório, cheio de lacunas, pois tanto os autores como os demais colaboradores possuíam poucos meios e falta de conhecimentos, foi feita referência a 15 grutas visitadas, até então na ilha de São Miguel, e a outras 6, referidas na biografia existente ou mencionadas por diversas pessoas, entre as quais o Caldeirão.
Sobre este, no mencionado relatório da minha autoria e da do Dr. George Hayes, sobre aquela cavidade vulcânica apenas era mencionado o seguinte: “No Caldeirão, a nordeste de Ponta Delgada existe uma gruta que possuía três aberturas, hoje tapadas. Pela descrição que possuímos de uma pessoa que a visitou deveria possuir mais de um quilómetro de extensão”
Hoje, pouco mais se sabe pois foram poucas as pessoas que lá estiveram e todas as tentativas que foram feitas para encontrar uma possível abertura até ao momento têm sido infrutíferas.
A seguir, aproveito a oportunidade para relembrar algumas opiniões que ao longo dos tempos foram dadas sobre o Caldeirão, umas no sentido da sua destruição e outras da sua manutenção com vista ao seu aproveitamento turístico, bem como dar a conhecer um resgate de animais que lá foi feito pelos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada.
A 26 de janeiro de 1963, Manuel Inácio de Melo, que conhecia o Caldeirão, mais ou menos, desde, 1905 escreveu no Correio dos Açores que havia visitado aquela “cratera extinta” onde “ali saiu fogo, por ali respirava um vulcão que atormentou os nossos antepassados”.
Segundo ele, que estava acompanhado por um luso-americano que não o conhecia, para ver a profundidade do Caldeirão deixou cair uma pedra que “produziu um som cavernoso” e “começaram a ouvir, um certo número de cães, a uivar, certamente de fome” e prosseguiu informando que mesmo na estrada “ainda se ouviam os gritos angustiosos daqueles pobres animais que, com certeza, ali vão morrendo de fome”.
Para concluir o seu texto, Manuel Inácio de Melo apela a quem de direito para encher o Caldeirão de cascalho, permitindo assim acabar com “uma sepultura de animais perdidos para a vida ou consumo” e terminar com “aquela má nota e má impressão que nos causa ao ouvir cães a uivar com fome”.
Através de uma reportagem publicada, a 1 de fevereiro de 1963, no Correio dos Açores intitulada “A cinquenta metros de profundidade foram desvendados os mistérios do Caldeirão pelo Comandante dos Bombeiros Voluntários Roberto Zagalo Cardoso”, os leitores ficaram a saber que o apelo de Manuel Inácio de Melo não caiu em saco roto e que o referido comandante acompanhado pelos bombeiros Gilberto Soares Pereira e Teófilo Joaquim Vicente desceram àquela “cova misteriosa onde tudo entra para não mais sair”.
Para além da descrição daquela cavidade, o comandante Zagalo Cardoso disse que os únicos animais ferozes que encontrou foram “os mosquitos e as pulgas” e que os oito cães que trouxeram “entregaram-se docilmente, ganindo à sua volta como a pedir socorro, outros, nem forças tiveram para qualquer reação, tendo sido içados por quatro vezes dentro de sacos”.
Na mesma reportagem o comandante dos bombeiros de Ponta Delgada recordou que para além do apelo de Manuel Inácio de Melo, aquela descida para resgate de animais deveu-se “à recordação de uma antiga vizinha deste Quartel- D. Alice Moderno – cuja campanha zoófila recordo ainda com enternecimento, pois fiz parte da antiga Associação Protetora dos Animais, infelizmente, julgo que extinta”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30673, 8 de julho de 2016, p.16)

quarta-feira, 10 de junho de 2015

A imprensa socialista, a defesa dos animais e Alice Moderno

A imprensa socialista, a defesa dos animais e Alice Moderno


Na Primeira República a divulgação das ideias socialistas, na ilha de São Miguel, foi feita por três jornais ligados ao Partido Socialista Português: “O Proletário”, órgão da Federação Operária e do Operariado em geral, “O Protesto”, órgão e propriedade do Centro Socialista “Antero de Quental” e “O Protesto do Povo”, bimensário socialista que teve como redator principal, editor e proprietário Manuel Augusto César, cujo nome também está associado aos outros dois jornais mencionados, como administrador e diretor, respetivamente.

O Proletário, que começou a ser composto e impresso na tipografia de Ruy Moraes, a partir do número 13 passou a ser feito na Tipografia Alice Moderno, localizada na rua da Fonte Velha, 34 e 36, no seu número 23, relativo ao dia 11 de Outubro de 1913, anuncia a abertura, em Ponta Delgada, de “um curso nocturno, regido pela srª D. Alice Moderno, nossa ilustre colega d’A Folha”. Na mesma nota, o jornal chama a atenção dos operários micaelenses para a vantagem do referido curso ocorrer em horário noturno que é o mais adequado para quem trabalha todo o dia já que só à noite aqueles poderão dedicar-se a aprender as primeiras letras.

No seu número 27, de 7 de dezembro de 1913, O Proletário agradece a Alice Moderno a oferta do seu livro “Na Véspera da Incursão”, peça em um ato, dedicada pela autora ao “Senhor Doutor António Joaquim de Sousa Júnior, Sumidade cientifica consagrada nos centros mundiais, açoriano dos que mais alto levantam, no continente da República, o nome do Arquipélago, 1º Ministro da Instrução Pública”. Sobre aquela obra de Alice Moderno o autor do texto, de forma delicada, escusa-se a opinar, limitando-se a escrever o seguinte: “A nossa falta de competência inibe-nos de falar no seu conteúdo, restando-nos apenas dizer o seguinte:- lemos e gostamos.”

A 31 de Agosto de 1918, assinado por FARPA, o Protesto publica um texto onde é exposta a situação dos cães em Ponta Delgada. Segundo o autor do mesmo, “os quadros lastimosos de verdadeira selvageria e crime moral por parte de quem compete olhar pelos animais…irracionais, compreenda-se, são os de inúmeros cães, verdadeiras matilhas sem coleira e sem dono, passearem pelas ruas mais centrais e frequentadas da nossa cidade, caindo aqui e ali com os ataques próprios da tal doença «Esgana» ou então, tossindo n’uma tosse arrepiadora e cavernosa que lhes desconjunta todo o corpo esquelético, sujo e repelente”.

No mesmo texto, o autor junta-se a todas as vozes que em vários locais do país e também em São Miguel têm levantado a sua voz e mostrado a sua indignação face ao bárbaro tratamento dado aos animais de tiro. Segundo ele, também, é “lastimoso e impróprio de nós, gente civilizada, e vem a ser o de fazerem puxar carroças, carros, carrinhos e os carrões que fazem o transporte diário entre algumas vilas e aldeias desta ilha, animais chagados e mal alimentados, com o agravo de lhes porem em cima nos arreios que não são arreios nem são coisa que com arreios se pareçam, antes são instrumentos inquisitoriais, bárbaros e primitivos, que martirizam, inutilizam e chagam todo o corpo d’esses pobres animais que têm a infelicidade de cair na mãos d’uns brutos mais bestas do que as próprias bestas que os acarretam”.

Por último o autor apela, não só ao “coração de mulher” de Alice Moderno mas também pela posição de destaque na Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, para que intervenha e “que as autoridades sanitárias, administrativas e policiais, fiquem no descanso eterno de não vale a pena ralar! Para vergonha d’elas e vergonha nossa”.

A 30 de setembro de 1918, O Protesto, através de um curto texto intitulado “Os Aguilhões”, depois de recordar que numa carta publicada no Diário dos Açores alguém pediu que fossem tomadas medidas contra o uso de aguilhões que, apesar de proibidos, eram usados “quotidianamente na inglória, brutal e selvática tarefa de espicaçar os pobres animais, que a maior parte das vezes, estão mortos de cansaço e de fome e que por tal motivo não podem trabalhar, nem exceder as suas forças”, mostra a sua repulsa escrevendo: “Quando presenciamos estes casos diários, dá-nos a gana de desatrelar os animais, e pespegar com o condutor nos varais, arreia-lo e espicaça-lo também, por nossa vez, até que ele gritasse e provasse o atroz sofrimento que dá aos animais. Talvez, então servisse de emenda a todos os tratantes, seus émulos e imitadores”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30650, 10 de junho de 2015, p.2015)

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Com o nome de Alice Moderno


Com o nome de Alice Moderno

No passado dia 6 de Maio, o diretor Regional da Agricultura, Fernando Sousa apresentou, na Escola Básica Integrada dos Arrifes, o projeto “Alice Moderno” que tem por objetivo a luta “contra o abandono e maus tratos a animais”.

De acordo com as notícias publicadas o projeto limita-se à “colocação de 'outdoors' nas ruas, distribuição de cartazes e folhetos informativos nas escolas e postos da RIAC”. Não percebi se no âmbito do mesmo será instalado no chamado Hospital Alice Moderno o tão reclamado, pelos ecologistas, Centro de Recuperação de Aves Selvagens do Grupo Oriental.

Em primeiro lugar queria felicitar todos os que, a nível oficial, contribuíram para que este primeiro passo tenha sido dado, mas não queria que passasse despercebido que para se chegar aqui houve o empenho de muitos cidadãos, através de petições à ALRA, artigos de opinião e de muito trabalho, no dia-a-dia, em defesa de uma sociedade melhor para todos, humanos e não humanos.

A notícia oficial da apresentação do projeto refere “a presença de cães da Associação Animais de Rua” que é uma entidade que me merece todo o respeito pelo notável trabalho que está a fazer na ilha de São Miguel em prol dos cães e sobretudo dos gatos maltratados e abandonados por seres que se dizem humanos. Contudo, estranhei a referência aos cães e nenhuma menção às pessoas que são quem implementa as atividades, bem como a não alusão às demais associações de proteção das animais sedeadas na ilha de São Miguel e que, na medida das suas possibilidades, trabalham para a mesma causa. Será que foi apenas esquecimento do redator da notícia ou a APA- Associação de Proteção dos Animais dos Açores, a Cantinho dos Animais dos Açores e a AVIPAA- Associação Vilafranquense de Proteção dos Animais e do Ambiente foram esquecidas?

Um projeto como o que vimos referindo não terá o sucesso que é exigido se se ficar pelos cartazes e “outdoors” e pelos gabinetes do RIAC e ignorar os principais agentes da defesa animal que são os cidadãos sensíveis e as diversas associações existentes, bem como os educadores e professores que trabalham nas escolas açorianas.

A propósito do parágrafo anterior, já que se está a invocar o nome de Alice Moderno, é importante não esquecer que, logo que assumiu a presidência da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, em 1914, uma das primeiras medidas por ela tomada foi o envio de uma comunicação aos professores “pedindo-lhes para que, mensalmente, façam uma prelecção aos seus alunos, incutindo no espírito dos mesmos a bondade para com os animais, que não é mais do que um coeficiente da bondade universal”.

Outra iniciativa no âmbito do referido projeto é a criação, em parceria com a Delegação dos Açores da Ordem dos Médicos Veterinários, do “Voucher Alice Moderno” que não sabemos se será a adaptação de uma iniciativa que já existe a nível nacional ou se se trata de algo novo. Sobre este, pouco temos a dizer, mas tudo o que vier por bem é bem-vindo.

Por último, é preciso não esquecer que, em 2012, os subscritores da petição “ Por uma nova política para com os animais de companhia” reivindicavam mais, muito mais, do que foi agora anunciado.

Para que não caia no esquecimento aqui vai o pretendido:

“Solicitamos que a Região Autónoma dos Açores tome as devidas medidas legislativas no sentido da promoção, por um lado, da esterilização dos animais errantes, como método eficaz do controlo das populações, e, por outro lado, do incentivo à adoção responsável.

Solicitamos ainda que, seja respeitada a memória de Alice Moderno, pioneira da proteção dos animais nos Açores, transformando o atual Hospital Veterinário Alice Moderno, em São Miguel, em hospital público, onde os animais temporariamente a cargo de associações de proteção ou de detentores com dificuldade ou incapacidade económica possam ter acesso a tratamentos a preços simbólicos. Nas restantes ilhas, a função do Hospital Alice Moderno poderia ficar a cargo de um Centro de Recolha Oficial.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30634, 20 de maio de 2015, p.14)



quarta-feira, 6 de maio de 2015

Governo dos Açores promove Projeto 'Alice Moderno' contra abandono e maus tratos a animais


Governo dos Açores promove Projeto 'Alice Moderno' contra abandono e maus tratos a animais

O Diretor Regional da Agricultura destacou hoje, no lançamento de uma campanha regional de sensibilização contra o abandono e maus tratos a animais de companhia, a importância do envolvimento de vários departamentos do Governo dos Açores e das parcerias estabelecidas com diversas entidades para o desenvolvimento do Projeto 'Alice Moderno'.

“Não podemos, e é essa a mensagem que vos queremos passar, ficar indiferentes. Não maltratamos, não abandonamos e também não ficamos indiferentes quando o vimos. Denunciamos, ajudamos”, afirmou Fernando Sousa na apresentação da campanha, que também foi feita em língua gestual e decorreu na Escola Básica e Integrada dos Arrifes, em S. Miguel.

Fernando Sousa frisou que foi nesse sentido que o Governo dos Açores decidiu criar o Projeto Alice Moderno, salientando que Alice Moderno foi a fundadora, em 1911, da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais.

“Legou os seus bens a diversas causas de beneficência, como o hospital, com o seu nome, destinado a acolher animais maltratados”, afirmou o Diretor Regional, acrescentando que será instalado nesse espaço o Centro de Recuperação de Aves Selvagens do Grupo Ocidental, numa parceria entre as direções regionais da Agricultura e do Ambiente.

Para Fernando Sousa, que falava em representação do Secretário Regional da Agricultura e Ambiente, “este projeto – no espírito de Alice Moderno - pretende contribuir para uma sociedade mais atenta ao bem-estar animal, sensibilizando e informando como cada um de nós pode, com um gesto simples, fazê-lo”.

Dirigindo-se aos alunos da Escola Básica e Integrada dos Arrifes, numa apresentação conjunta com a Ordem dos Médicos Veterinários, a Associação de Municípios dos Açores e a Associação Nacional de Freguesias, Fernando Sousa destacou a importância de juntar “esforços e vontades” e do papel que cada um dos jovens pode ter na “consciencialização para a proteção dos animais”, na promoção do seu bem-estar e na proteção da saúde pública.

Além desta campanha que vai ser promovida em todas as ilhas dos Açores através da colocação de 'outdoors' nas ruas, distribuição de cartazes e folhetos informativos nas escolas e postos da RIAC, será, em breve, lançada mais uma iniciativa no âmbito deste projeto, o denominado 'Voucher Alice Moderno', em parceria com a Delegação dos Açores da Ordem dos Médicos Veterinários.

“É um apoio para todas as famílias que, gostando muito e querendo mesmo tratar bem dos seus animais, estão com dificuldades em fazê-lo”, adiantou o Diretor Regional.

Na apresentação hoje realizada, que contou com a presença de cães da Associação Animais de Rua, foram distribuídas camisolas e panfletos da campanha aos alunos da EBI dos Arrifes.
GaCS/OG

quinta-feira, 30 de abril de 2015

terça-feira, 21 de abril de 2015

Alice Moderno, Maria Evelina de Sousa e a República

Alice Moderno, Maria Evelina de Sousa e a República
Alice Moderno, que nasceu em 1867, teve a oportunidade de viver e assistir à queda da monarquia, saudar o advento da República e “aderir de alma e coração ao partido republicano”, segundo Maria da Conceição Vilhena, e passar os últimos anos da sua vida, primeiro sob a Ditadura Militar e depois sob o Estado Novo.
Até ao momento, não encontramos qualquer informação sobre a participação de Alice Moderno na vida interna de qualquer partido, o que é conhecida é a sua defesa do regime republicano no seu jornal “A Folha”, mesmo após algumas deceções que lhe causaram algumas medidas tomadas pelos republicanos no poder.
Entre Junho de 1918 e Maio de 1925 publicou-se em Ponta Delgada o semanário republicano “A Pátria” que, entre outros, teve como diretores José da Mota Vieira e António Medeiros Franco. De entre os colaboradores do jornal contaram-se Alice Moderno e a sua amiga, a professora Maria Evelina de Sousa, também republicana convicta.
Através dos números do jornal a que tivemos acesso, desde o primeiro até ao publicado a 16 de junho de 1924, concluímos que o contributo de Alice Moderno foi bastante modesto, tendo-se limitado à publicação de dois poemas, “4 de Julho”, no número 6, datado de 11 de julho de 1918 e “Resposta de Roosevelt”, no número 10, datado de 8 de agosto de 1918, que abaixo se transcreve:
Quando foram dizer ao grande ex-presidente
Que o seu filho mais novo, ainda adolescente,
Tenente-aviador do exército da América,
Recebera no front a morte heroica e épica
Que consagra os heróis, no solo o mais sagrado,
Lutando em prol do Ideal, agora espezinhado
Pelo militarismo, a contrapor afeito
O direito da força à força do Direito,
Roosevelt respondeu, com voz que não tremia:
“Minha mulher e eu sentimos alegria
Ao ver que o nosso filho, única e simplesmente,
Cumprindo o seu dever, honrou a pátria ausente!”

Sem comentário algum, dobremos o joelho,
E ó pais de Portugal, vede-vos neste espelho!

Para além do mencionado, Alice Moderno foi autora de uma carta aos diretores do jornal, publicada a 3 de dezembro de 1923 onde considerou deplorável o uso de “carroças puxadas por animais das espécies lanígera e caprina”, o qual contrariava uma postura municipal que nos primeiros tempos foi cumprida para depois cair no esquecimento da própria polícia de Ponta Delgada.
A colaboração de Maria Evelina de Sousa para o jornal “A Pátria” foi maior, tendo para além do poema Aspiração, publicado a 10 de março de 1924, sido autora de vários textos, a maioria dos quais relacionados com a educação/ensino.
Num dos textos, publicado a 19 de novembro de 1923, Maria Evelina de Sousa saúda a decisão das juntas republicanas das paróquias de Lisboa de criar cantinas escolares, fazendo votos para que “o exemplo frutifique e em breve o possamos ver também na cidade de Ponta Delgada”. Como argumento a favor, a autora aponta o facto de o fornecimento de uma refeição diária nas escolas levar a que as famílias matriculem os seus filhos “de melhor vontade”, resultando “uma dupla alimentação: física e intelectual”.
Outro texto interessante é o que foi publicado no número que veio a público a 26 de novembro de 1923, onde Maria Evelina de Sousa sugere a alteração da lei eleitoral para que o voto seja efetivamente livre, propondo que só pudesse “votar quem, sabendo ler e escrever, possua a mais completa liberdade de ação”.
Para acabar com a “força política dos detentores da propriedade, dos donos das terras”, Maria Evelina de Sousa propõe que sejam eliminados dos cadernos eleitorais todos os rendeiros “porque em geral da renda faz parte o voto de que o senhorio dispõe a seu talante, por vezes servindo-se dele para ver se entrava a marcha evolutiva dos princípios liberais”.
Hoje, a situação está profundamente alterada, mas se se eliminassem dos cadernos eleitorais todos os que, mesmo tendo frequentado a escola, não sabem ler ou não são capazes de compreender um texto de três linhas e todos os frequentadores das adulteradas sessões de esclarecimento, cujo principal atrativo é o porco no espeto, talvez as eleições fossem um pouco mais livres.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30612, 22 de abril de 2015, p.14)
Foto: http://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=1016228

quarta-feira, 25 de março de 2015

Maria Evelina de Sousa

      A Pátria, 12 de novembro de 1923

Maria Evelina de Sousa condenada ao esquecimento?

Desconhecemos a razão do desprezo a que sido votada, por parte das mais diversas entidades, Maria Evelina de Sousa (1 de janeiro de 1879 – 12 de fevereiro de 1946) que foi uma distinta professora primária e jornalista micaelense. Com efeito, não conhecemos nenhuma rua com o seu nome e não recebeu qualquer “condecoração”, nem mesmo a título póstumo.

Nasceu em Ponta Delgada, cidade onde frequentou a Escola Distrital de Habilitação ao Magistério, tendo concluído o curso em 1900 (?) com a classificação de 17 valores.

A partir de 1904 começou a lecionar na Escola de Santa Clara, tendo, quatro anos mais tarde, em 1908, sido responsável pela criação da primeira biblioteca escolar do círculo, iniciativa muito comentada na sociedade micaelense e na comunicação social da altura.

No âmbito do ensino, Maria Evelina de Sousa, procurou introduzir inovações nos Açores, tendo aprendido o método de leitura e escrita, Método Legográfico-Luazes, com a sua autora, a professora, pedagoga e escritora Maria Amália Luazes, que foi a fundadora do Instituto do Professorado Primário Oficial Português, em 1916. Assim, Maria Evelina de Sousa ofereceu-se para explicar, a título gratuito, o método a todos os professores que o quisessem aprender. Foi, também, por sua iniciativa que se realizou em Ponta Delgada uma conferência de  propagando do método de João de Deus.

Em matéria de ensino, ainda durante a monarquia, Maria Evelina de Sousa defendeu que nos estabelecimentos escolares não devia ser permitido o ensino de matéria religiosa, o que veio a acontecer com a implantação da República.

Pouco depois da implantação da República, Maria Evelina de Sousa escreveu uma carta aberta ao Dr. Francisco d’Ataíde Machado de Faria e Maia, presidente da Comissão Administrativa Republicana, onde apresentou um plano de remodelação do ensino primário oficial para a cidade de Ponta Delgada, tendo entre outras medidas defendido a criação de quatro escolas centrais e a criação de uma rede de escolas que deveria incluir “as diferentes associações que, trabalhando isoladamente, têm o mesmo objetivo” e que eram  a Associação Século XX, as Comissões de Beneficiência e Ensino  e a Associação das Filhas de Maria.

Como jornalista é de destacar a sua colaboração, entre 1904 e 1907, no jornal portuense dedicado aos interesses da instrução e do professorado “O Campeão Escolar” e a fundação e direção e redação da “Revista Pedagógica”, que se apresentava como órgão do professorado oficial açoriano e que, entre 1909 e 1915, esteve ao serviço da educação e dos professores, tendo sido distribuída a nível nacional. Para além de colaborar no jornal “A Folha”, fundado em 1922 pela sua amiga Alice Moderno, foi, a partir de 12 de maio de 1915, secretária de redação daquele jornal e colaboradora do jornal “Correio dos Açores”, onde publicou alguns artigos de opinião e poesia diversa.

Fez parte da comissão organizadora da Escola Industrial de Rendas de Bilros que funcionou em Ponta Delgada sob a regência da professora D. Hortense de Morais.

No âmbito da defesa dos Animais, foi com Alice Moderna uma das principais dinamizadoras da criação da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, em 1911, tendo sido ela a responsável pela redação dos estatutos e mais tarde, criada a associação, assumido vários cargos nos órgãos sociais da mesma.

Foi militante de várias associações defensoras da causa feminista, como a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, tendo sido homenageada por esta instituição em Agosto de 1912, a Associação de Propaganda Feminista, fundada, em 12 de Maio de 1911, por Ana de Castro Osório, e a Associação Feminina de Propaganda Democrática, criada em 1915 e dissolvida em Junho de 1916, que se identificava com o Partido Democrático e apoiava a ação política de Afonso Costa.

 

Aposentou-se a 13 de Julho de 1940, após trinta e seis anos de bom e efetivo serviço sendo, na altura, professora da Escola Agostinho Machado Bicudo Correia, localizada na freguesia de São Pedro, em Ponta Delgada.

 

Teófilo Braga


(Correio dos Açores, 30589, 25 de março de 2015, p.16)