quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Alice Moderno e a educação


Alice Moderno, o ensino e a Revista Pedagógica

“85% de analfabetos numa região europeia! Chega a causar vertigens e calafrios, e nada mais seria preciso para que o regímen monárquico que mantinha no trono os Braganças fosse condenado à pena última por queles que, por acaso, sabem ler”
(Alice Moderno, Revista Pedagógica, nº 199, 14 de dezembro de 1911)
De 1909 a 1915, publicou-se, em Ponta Delgada, a “Revista Pedagógica que teve como proprietária e diretora a professora primária Maria Evelina de Sousa. Como redatores principais, entre outros, destacaram-se Alice Moderno, Aires Jácome Correia (Marquês de Jácome Correia), Luís Leitão, Fontana da Silveira e Ulisses Machado.
Alice Moderno, para além de ser a colaboradora mais assídua, também dirigiu a revista na ausência de Maria Evelina de Sousa, o que terá acontecido entre os números 108 e 112, publicados em 1909.
De entre a colaboração que Alice Moderno prestou à Revista Pedagógica, destacamos, pela duração no tempo, a tradução livre da rubrica “Usos Sociais” que era da autoria da Baronesa de Savernon.
A Revista Pedagógica manteve ao longo dos anos em que foi editada um espaço dedicado à poesia, intitulado “Guarda-joias”, onde foram publicados poemas de vários autores, como Antero de Quental, Maria Veleda, Mário Pacheco e Alice Moderno.
Na rubrica referida, Alice Moderno publicou, entre outros, os seguintes poemas: “Amor Supremo”, escrito para uma récita de uma grande gala realizada no Teatro Micaelense, “A Itália Vitaliani”, “Jogos Florais”, soneto dedicado ao Marquês de Jácome Correia, e “A João Melo Abreu”, poesia que foi impressa na fita de uma coroa deposta sobre o seu ataúde.
Sobre a temática do ensino propriamente dito, Alice Moderno escreveu vários textos onde teve a oportunidade de expor o seu pensamento.
De entre eles, destacamos “Palavras de um “toast”, escrito em Angra do Heroísmo, a 22 de outubro de 1911, dedicado aos professores primários (hoje designados de professores do 1º ciclo do ensino básico).
No seu texto, Alice Moderno saúda os professores primários, dizendo que eles são “os funcionários mártires da instrução” e acrescenta, citando Renan “que o futuro intelectual do indivíduo depende principalmente de quem lhe ensina a ler” e termina afirmando que “a leitura, inteligentemente assimilada em tenros anos, pode fazer sábios, como a rotina sabe fabricar cretinos”. Alice Moderno conclui o seu curto texto, saudando “entusiasticamente os membros conscientes, independentes e dignos da classe à qual o estado menos paga e da qual mais exige…”
Outro texto que merece referência foi o publicado a 9 de dezembro de 1909, intitulado “Médicos Escolares”, onde Alice Moderno solidariza-se com a opinião de Maria Evelina de Sousa que numa reunião realizada em Ponta Delgada defendeu a necessidade de médicos escolares que deveriam visitar as escolas quinzenalmente a fim de verificar se aquelas se encontravam em boas condições de higiene “e se as crianças que as frequentavam estão em boas condições que lhes permitam matricular-se num estabelecimento de instrução, a que concorrem muitas outras que têm direito a não serem contaminadas pela doença alheia”.
Alice Moderno, para além de professora particular, foi nomeada regente da Escola Móvel de Ponta Delgada, tendo, no dia 15 de outubro de 1913, proferido a alocução inaugural.
No seu discurso Alice Moderno elogiou o regime republicano por “procurar extinguir, no feracíssimo solo lusitano, as flores nefastas da ignorância e da superstição” que infelizmente continuam a proliferar nos nossos dias.
Pelo interesse que tem para melhor conhcermos o pensamento de Alice Moderno, para terminar esta minha colaboração de hoje, abaixo apresenta-se um extrato do discurso mencionado:
“ A verdade é que somos todos iguais.
Iguais no nascimento, pelo sofrimento, e perante a morte. O que desnivela os homens é unicamente, mas cumpre dizê-lo inexoravelmente, a diferença de educações.
Instruí-vos, educai-vos, e colocar-vos-eis a par dos primeiros entre os vossos semelhantes.”
Teófilo Braga

(Correio dos Açores, nº 30495, 26 de novembro de 2014, p.15)

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