sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Dois Micaelenses Ilustres




Proteção aos animais

Entre os estabelecimentos de caridade que honram a cidade invicta, não deve omitir-se a Sociedade Protetora dos Animais a cuja direção preside um micaelense ilustre, o sr. Dr. José Nunes da Ponte.

Dispondo de um rendimento que as quotas dos sócios e vários legados de beneméritos lhe têm fornecido, a sua receita atingia em 1913 a verba já importante de 1505 escudos, moeda portuguesa, ou sejam 1881 escudos na moeda insulana.

Permite-lhe semelhante rendimento proteger eficazmente os animais, mantendo fontenários, distribuindo prémios, custeando um posto veterinário, tendo empregados remunerados, escritório com telefone, que prontamente comunica com todos os pontos da cidade, etc. etc.

Durante o referido ano económico, foram submetidos à consulta, no posto veterinário 451 animais, distribuídos pelas seguintes espécies:

Gatos 175
Cães 165
Galos 39
Galinhas 29
Papagaios 12
Perús 7
Cavalos 5
Porcos 4
Vacas 3
Cabras 2
Macacos 2
Coelhos 2
Pavões 2
Bois 1
Éguas 1
Gansos 1
Ovelhas 1
Total 451

Além destes animais, foram ainda operados 49, e submetidos a exame de sanidade, 16, o que perfaz o já o bonito número de 515 serviços prestados pelo posto veterinário à população irracional da segunda cidade do país.

Os sócios atingem o número de 1030, dos quais são 22 beneméritos e 12 honorários.

A lista dos mesmos sócios, que temos presente, contém por assim dizer quantos, no meio portuense, se notabilizam pela sua ilustração e posição social.

É também digna do máximo elogio a Comissão Administrativa da Ex.ª Câmara Portuense, que ao referido ano incluiu no seu orçamento extraordinário a importante verba de 1500 escudos para instalação de balanças contrôleurs, destinadas a verificar o peso das carroças puxadas por bestas de carga.

Menciona ainda o relatório da Direção, do qual extraímos os dados deste artigo, os excelentes serviços prestados pelo corpo policial, sendo em número de 2394 as autuações efetuadas por seis guardas cujos números inclui, e foram recompensados pela Sociedade.

Os trabalhos realizados por esta benemérita Associação, que tanto honra e levanta o nível moral da cidade onde se expande e progride, deve servir de incentivo e exemplo ao pequeno número de cidadãos, que hoje constituem a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, onde se encontram tão esforçadas boas vontades, que, certamente, com o auxílio das nossas corporações administrativas e a proteção de alguns beneméritos, conseguirão colocá-la, relativamente, a par das suas congéneres de Lisboa e Porto.

Para o estabelecimento de um posto veterinário conta a Sociedade com a cooperação já prometida das Ex.mas Câmara de Ponta Delgada e Ribeira Grande (a Comissão Administrativa Distrital não se dignou ainda de responder ao ofício que neste sentido lhe foi enviado), sendo a atual receita composta das quotas dos sócios, e muito principalmente do subsídio de 100 escudos anuais, generosamente doados pelo sr. Marquês de Jácome Correia.

Pela parte que nos toca, não nos pouparemos a esforços nem trabalho para minorarmos a triste sorte desses a quem S. Francisco de Assis tão justamente chamou “os nossos irmãos inferiores”.

(A Folha, nº 594, 10 de Maio de 1914)

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

MANIFESTO 2012


No Dia do Animal por uma nova política para os animais de companhia

Há um século foram fundadas as primeiras associações de proteção dos animais dos Açores que tinham como preocupação principal combater o abandono e os maus tratos de que eram alvo os animais de companhia e lutar por melhores condições de existência para os animais de tiro, nomeadamente cavalos, bois e burros, que eram vítimas de maus tratos, trabalhavam mesmo doentes e em muitos casos eram mal alimentados.

Desde então até hoje, muitos açorianos se têm dedicado à causa da proteção dos animais, sendo incompreensível como 34 anos depois de aprovada a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, na nossa região, como um pouco por todo o mundo, o flagelo do abandono e dos maus tratos aos animais de companhia não tenha sido erradicado.

Hoje, 4 de Outubro de 2012, um conjunto de associações e coletivos dos Açores, consciente da crescente preocupação da sociedade face à proteção dos direitos dos animais, vem manifestar a sua concordância e apoio à petição “Por uma nova política para os animais de companhia” (*), que já conta com mais de 1000 (mil) subscritores.

Assim, considerando também que a presença de animais de companhia no seio das famílias, desde que estas tenham condições para os ter, contribui para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e pode constituir um precioso instrumento de educação das crianças, vimos apelar para que seja:

- Criada, pela Assembleia Legislativa Regional, legislação que promova uma política responsável para os animais de companhia, de forma a evitar o contínuo abate de animais abandonados nos canis municipais e baseada, por um lado, na esterilização dos animais errantes, como método mais eficaz do controlo das populações, e, por outro lado, na adoção responsável dos animais abandonados;

- Criados acordos com as associações de proteção dos animais dos Açores devidamente legalizadas para a implementação a nível local das políticas de defesa dos animais;

- Respeitada a memória de Alice Moderno, transformando o atual Hospital Veterinário Alice Moderno, em São Miguel, em hospital público, onde os animais temporariamente a cargo de associações de proteção ou de detentores com dificuldade ou incapacidade económica possam ter acesso a tratamentos, incluindo a esterilização, a preços simbólicos. Nas restantes ilhas, a função e propósitos do Hospital Alice Moderno deveria ficar a cargo de um Centro de Recolha Oficial.

(*) http://www.peticaopublica.com/?pi=P2012N28493

Açores, 4 de Outubro de 2012

(Nome das Associações por ordem alfabética)
Amigos dos Açores – Associação Ecológica
Amigos do Calhau – Associação Ecológica
Associação Açoreana de Proteção dos Animais
Associação Cantinho dos Animais dos Açores
Associação dos Amigos dos Animais da Ilha Graciosa
Associação Faialense dos Amigos dos Animais
CADEP-CN - Clube dos Amigos e Defensores do Património-Cultural e Natural de Santa Maria
CAES – Coletivo Açoriano de Ecologia Social
MCATA – Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia dos Açores

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa e a proteção dos animais



O dia de amanhã, 4 de Outubro, desde 1930, é dedicado, por vários países do mundo, aos animais. Neste dia, são homenageados os nossos amigos animais que, infelizmente, continuam, ainda hoje, a ser desrespeitados por muitos humanos.

Neste texto, uma vez mais, vamos recordar duas pessoas que dedicaram a sua vida à proteção dos animais, Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa.

Alice Moderno, francesa por nascimento, nasceu a 11 de Agosto de 1868 e açoriana pelo coração, faleceu, em Ponta Delgada, a 20 de Fevereiro de 1946. A primeira estudante a frequentar o Liceu de Ponta Delgada perdurará para sempre na memória de todos os que, nos Açores, têm compaixão para com os animais, a quem ela, tal como São Francisco de Assis, designava por “nossos irmãos inferiores”.

Toda a vida de Alice Moderno foi dedicada à procura de melhores de condições de vida para os animais, nomeadamente os de tiro, como cavalos, bois, mulas e burros que transportavam pesadas cargas, por vezes insuportáveis para as suas forças, em muitos casos doentes e famintos, sendo alvo de pancadaria sempre que as suas forças faltavam ou tinham o azar de escorregar em caminhos mais íngremes. Os animais de companhia, nomeadamente os cães que abandonados e depois de recolhidos pelas carroças municipais eram envenenados pelos serviços camarários ou que não sendo apanhados pelas sinistras carroças vagueavam pelas ruas, incluindo as de Ponta Delgada, eram envenenados com doses de estricnina, também, não foram por ela esquecidos.

O labor de Alice Moderno em defesa dos animais não se limitou à escrita, quer nos jornais que criou, como “A Folha”, quer noutros jornais dos Açores onde colaborou, como o Correio dos Açores, onde durante muito tempo manteve a seção “Notas Zoófilas”. Com efeito, para além de ter sido uma das fundadoras da SMPA - Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, em 1911, foi sua presidente entre 1914 e 1946, data do seu falecimento.

Mas, a sua preocupação e amor pelos animais era tanta que vinte dias antes de morrer mandou redigir o seu testamento, onde deixou à Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada alguns dos seus bens com vista à criação de um hospital veterinário o qual, segundo o Diário dos Açores de 11 de Agosto de 1967, “à parte a dedicação dos técnicos “, não correspondia à importância do património legado. O mesmo jornal sugeria, na altura, que o mesmo fosse valorizado com vista “a honrar, com inteira justiça, a memória da sua instituidora”.

Na criação da SMPA outra mulher teve um papel de destaque. Com efeito, foi a professora do primeiro ciclo, Maria Evelina de Sousa, diretora da “Revista Pedagógica” quem, com base noutros estatutos, redigiu os da SMPA os quais foram aprovados com pequeníssimas alterações. Evelina de Sousa que também divulgou a causa animal na “Revista Pedagógica” foi colaboradora de Alice Moderno, ao longo da sua vida, tendo sido, também, membro da direção daquela associação.

Hoje, passadas mais de seis décadas do falecimento tanto de Alice Moderno como de Maria Evelina de Sousa, já não se vêm as barbaridades de então, sobretudo porque o progresso fez com que os animais de tiro fossem substituídos por veículos a motor, mas o abandono de animais de companhia não para de crescer como não para de crescer o número dos que são abatidos nos canis. De igual modo é quase diária a chegada de notícias de maus tratos aos animais de companhia um pouco por todo o lado e os animais de tiro que ainda existem nas freguesias rurais continuam a ser tratados como pedras de calçada.

Face ao exposto, para honrarmos a memória das duas pioneiras referidas e de todas as outras pessoas que ao longo dos anos têm dedicado as suas vidas a tentar mudar mentalidades, é fundamental exigir novas políticas públicas para o tratamento dos animais que acabem de uma vez por todas com a que é seguida até hoje e que é a do abate para combater o abandono e a sobrelotação dos canis.

Hoje, numa região que se diz civilizada, é necessário, a par da exigência de uma vida digna para todos os seres humanos, a reivindicação de melhores condições para os animais que connosco partilham a vida na Terra.

É este apelo que fazemos a todas as pessoas de boa vontade e a todas as associações de proteção dos animais que existem nas várias ilhas dos Açores.

Teófilo Braga