sábado, 22 de setembro de 2012

A bondade para com os animais, que não é mais do que um coeficiente da bondade universal




Sociedade Micaelense Protetora dos Animais

Esta benemérita associação tem procurado ultimamente entrar em campo prático, sem o que a sua ação pouca utilidade reverteria, quanto à modificação dos nossos costumes relativamente aos direitos dos animais.

Assim, tem já uma sede própria, deixando de utilizar-se do amável oferecimento da benemérita Associação de Bombeiros Voluntários desta cidade, em cujo quartel encontrou sempre a mais generosa hospitalidade para as suas reuniões, quer ordinárias quer extraordinárias.

Para a mesma fez a aquisição de mobiliário, modesto mas decente, e poderá receber de hoje em diante todos os associados, ou não associados que com a mesma tenham algum assunto a tratar.

O Regulamento Policial encontra-se já elaborado pelo digno chefe do distrito, sr. Dr. João Francisco de Sousa, e da redação da introdução ao mesmo foi encarregada a diretora deste jornal, que é também presidente da direção daquela sociedade.

Em conformidade com o que costuma usar a benemérita Sociedade Protetora dos Animais de Lisboa foi dirigido às autoridades administrativas e militares uma circular, e outra foi endereçada aos professores do círculo pedindo-lhes para que mensalmente façam uma preleção aos seus alunos, no espírito dos mesmos “a bondade para com os animais, que não é mais do que um coeficiente da bondade universal”.

Mais e melhor efetuar a benemérita agremiação, para a existência da qual chamamos a atenção dos nossos exmos leitores, que certamente não quererão deixar de cooperar na eficácia da sua prestante e civilizadora missão.

A sede da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais encontra-se estabelecida na rua Pedro Homem, nº 15, rés-do-chão.

(A Folha, nº 589, 5 de Abril de 1914)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Numa tourada (II)



Muito embora em vários assuntos que nessa ocasião discutimos nos encontremos de perfeito acordo, não abordo o tema perigosíssimo das touradas, nem lhes comunico o que me vai na alma …
De resto, a tourada decorreu como todas as que tenho assistido. Houve ferros bem metidos, e ruidosamente festejados, e após a saída de cada novilho, a quadrilha percorreu a arena, sendo-lhe arremessados dinheiro, flores, cigarros e rebuçados, que os toureirinhos levantavam, agradecendo com garbo peculiar da sua raça.
A única nota discordante é a de um tourinho muito levado da breca, que, logo ao entrar no circo, parece dar cabo de tudo.
Os toureiros, prudentemente, depois de alguns simulacros de desafio, ocultam-se atrás dos esconderijos, sendo conduzidos à arena as doceis vacas pacificadoras, destinadas a induzir o touro a recolher-se ao curral.
Este, porém, ébrio de fúria, e sacudindo belicamente as pontas que se desembolaram, fere com certa profundidade, no peito, uma das companheiras, correndo o sangue em grossos jorros.
Foi a simpática rês a única vítima daquela diversão, tão apreciada pelos nossos vizinhos de oeste. Não é preciso dizer que não saí do circo sem ir inquirir da saúde da pobre sacrificada, encontrando-a muito ferida, sim, mas já pensada, e sofrendo a sua má sorte com uma coragem estoica, o que é, aliás, muito mais vulgar nos irracionais do que na nossa espécie.
E divido com o nobre animal, tão estupidamente ferido, parte da muita simpatia que sagrara ao cavalinho esquelético, daquela quase inofensiva tourada.
(in Cartas das Ilhas, XX, A Folha, nº 487, 10 de Março de 1912)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Alice Moderno e as touradas




Numa tourada (1)

Pela 1 hora da tarde, e depois de havermos, à janela da sala do hotel, inutilmente esperado uma carruagem requisitada, a qual nunca chegou a aparecer, dirigimo-nos a pé para a praça de touros, sita num alto, na freguesia de S. Pedro, indo ocupar um camarote.
Acha-se em Angra uma quadrilha composta de jovens toureiros, los niños sevillanos, rapazes de 16 a 18 anos, ainda imberbes, que correm novilhos com destreza, e fazem as delícias da população terceirense, tão amadora de touros, que bem mostra correrem-lhes nas veias ainda hoje glóbulos de sangue espanhol.
Tanto os camarotes como as bancadas encontram-se repletos de espetadores, e, nos primeiros raios de um lindo sol outonal, cintilam garridamente as cores claras das toiletes femininas das senhoras terceirenses, reputadas, entre as açorianas, pela sua graça e formosura.
Pelos corredores, vendedores ambulantes oferecem favas torradas, milho submetido ao mesmo processo culinário, laranjas e água, e, à entrada, ao balcão, vendem-se refrescos, entre os quais cerveja da fábrica Melo Abreu Herdeiros, de Ponta Delgada.
Começa a diversão por exercícios de ginástica, executada por operários, sócios da agremiação, Recreio dos Artistas.
Toca uma filarmónica e, de espaço a espaço, sobem ao ar pequenas girandolas de foguetes.
Concluídos os exercícios acrobáticos, feitos, com mais ou menos mestria na barra fixa, são retiradas estas e o tapete sobre o qual haviam dado cambalhotas os curiosos ginásticos.
Entra então a quadrilha, que se dirige para o camarote da autoridade, a fazer os cumprimentos do estilo, percorrendo em seguida a praça com vénias aos espetadores.
Os jovens toureiros vestem fatos claros, de vistosas cores. Usam meia de seda, calção, sapatos de fivela e, como é da praxe, rabicho.
Um deles monta um cavalo esquelético, de olhos vendados e é logo para o infeliz quadrúpede que se dirige toda a minha atenção. É ele, não tenho pejo de o confessar, que absorve toda a minha simpatia e para o qual todos os meus melhores desejos…
 Pobre animal, ser incompleto, irmão nosso inferior, serviu o homem com toda a sua dedicação e com toda a sua lealdade, consumindo em seu proveito todas as suas forças e toda a sua inteligência!
Agora, porém, no fim da vida, é posto à margem e alugado a preço ínfimo, para ir servir de alvo às pontas de uma fera, da qual nem pode fugir, visto que tem os olhos vendados!”
E esta fera, pobre animal, também, foi arrancada ao sossego do seu pasto, para ir servir de divertimento a uma multidão ociosa e cruel, em cujo número me incluo!
Entrará assim em várias touradas, em que será barbaramente farpeada até que, enfurecida, ensanguentada, ludibriada, injuriada, procurará vingar-se, arremessando-se sobre o adversário que a desafia e fere. Depois de reconhecida como matreira, tornada velhaca pelo convívio do homem, será mutilada. Em vez de touro de praça, será boi de charrua ou carroça, ou ambos alternadamente. E lavrará pacientemente, resignadamente, santamente, as terras destinadas a produzir o trigo e o milho que o homem há-de comer.
Quando as suas forças tiverem entrado no período declinatório, dar-lhe-ão, em vez da restrita ração quotidiana, dose dobrada. E quando algum descanso relativo, aliado a esta também relativa superalimentação lhe tiverem revestido o esqueleto de alguns escassos ádipos, será abatido e fragmentado, ainda para alimentação do mesmo homem, que se não esquecerá, também, de lhe utilizar o couro, para defesa dos seus pés, e os cascos e chifres para artefactos do seu uso …
E, então, por um fenómeno físico que muitas vezes tenho observado em mim própria, toda a alegria festiva daquela diversão, em que certamente não haveria morte de gente nem mesmo de bicho, se transforma em melancolia amaríssima, contra a qual dificilmente posso reagir. Tento, todavia fazê-lo. Empunho o meu binóculo, e enquanto não entra o touro, do que serei avisada pelo toque de corneta, vou correndo com a vista os camarotes, em muitos dos quais reconheço caras minhas conhecidas e, em alguns, os meus companheiros de viagem de bordo do Funchal.
Moniz Machado, por exemplo, num camarote próximo àquele em que me encontro, come, ao tempo, denodadamente milho torrado, e parece disposto a gozar a festa em todas as suas peripécias, com o seu infalível bom humor. Para este feliz mortal, não há melancolias nem tristezas, e este vale é bem mais de risos do que de lágrimas!
Toca dentro em pouco a corneta, a música ataca a canção do Toreador da Carmen de Bizet, os capas poem-se em posição, e o cavaleiro empunha a lança com que tem de defender-se, e ao triste cavalinho que monta…

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Concretizar o sonho de Alice Moderno


Concretizar o sonho de Alice Moderno  

Como se não bastasse toda uma vida empenhada na defesa de várias causas, com destaque para proteção dos animais, Alice Moderno, no seu testamento, deixou uma verba necessária para a construção de um Hospital Veterinário, onde os animais de companhia, em especial os pertencentes aos mais desfavorecidos da sociedade, pudessem ser devidamente tratados.

Um arremedo de hospital começou a funcionar, em 1948, num pequeno pavilhão pouco espaçoso na rua Coronel Chaves, onde até há alguns anos funcionou o CATE. As suas minúsculas dimensões e por se assemelhar mais a um canil do que a um hospital fizeram com que o mesmo nunca tenha chegado a ser oficialmente inaugurado.

Mais tarde, a Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada construiu um edifício na Estação Agrária, em São Gonçalo, com um pouco mais de espaço. O mesmo foi dotado do material e da aparelhagem necessária, tendo a sua manutenção ficado a cargo dos rendimentos obtidos através do legado da benemérita Alice Moderno.

Nos primeiros anos, sob a administração da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, presidida pela Dona Fedora Serpa Miranda, com a colaboração da Junta Geral, foi assegurada a enfermagem permanente aos pequenos animais e a consulta diária a animais de todas as espécies, através do veterinário municipal de Ponta Delgada.

Hoje, não se pode falar em hospital veterinário pois no espaço existente funciona um consultório veterinário que era, pelo menos até há pouco tempo, assegurado por vários médicos veterinários que exerciam as suas funções a título privado. Segundo Ana Coelho, em 2009, o número de atendimentos era diminuto e ainda existia graças à boa vontade dos Serviços de Desenvolvimento Agrário e dos especialistas que ali trabalhavam diariamente.

Todos os anos, ultrapassa largamente dois mil o número de animais de companhia (cães e gatos) que são abandonados, acabando na sua maioria por serem abatidos nos canis municipais ou atropelados nas estradas. A título de exemplo, só no canil de Ponta Delgada, em 2009 deram entrada 2088 animais, tendo sido encaminhados para adoção cerca de 780, o que significa que foram abatidos cerca de 1300. Em 2010, deram entrada no mesmo canil  2177 animais, tendo sido abatidos 1278.

No atual contexto socioeconómico da região, onde muitas pessoas perderam emprego e apoios sociais e têm dificuldades em cumprirem o pagamento de todas as despesas destinadas à sua sobrevivência com dignidade, prevê-se que aumente o número de animais que não terão o devido acompanhamento médico veterinário e que aumente o número de abandonos.

O esforço que é feito pelas associações de proteção dos animais, que se debatem com falta de meios e de apoios públicos, acaba por ser muito modesto pois, através dele, só uma pequena parte dos animais irá conseguir tratamento adequado e uma percentagem, também, pequena dos abandonados conseguirá um novo lar.
Sabendo-se que estamos perante um problema humanitário e de saúde pública cuja resolução não pode depender, exclusivamente, do setor privado da atividade médico-veterinária, a situação só poderá ser alterada se a Região Autónoma dos Açores tomar as devidas medidas legislativas no sentido da promoção, por um lado, da esterilização dos animais errantes, como método eficaz do controlo das populações, e, por outro lado, do incentivo à adoção responsável.
Por último, para que a memória de Alice Moderno, pioneira da proteção dos animais nos Açores, seja respeitada sugere-se a transformando o atual Hospital Veterinário Alice Moderno, em São Miguel, em hospital público, onde os animais temporariamente a cargo de associações de proteção de animais ou de detentores com dificuldade ou incapacidade económica possam ter acesso a tratamentos a preços simbólicos.
Este hospital poderia ser cogerido pelas associações de proteção dos animais com atividade, em São Miguel, em parceria com o Governo Regional dos Açores. Assim, seria respeitado o desejo de Alice Moderno que era que fosse assegurado tratamento “aos pobres irracionais desprotegidos da sorte”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 12 de Setembro de 2012)

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Assunto Urgente



Vimos hoje tratar de um assunto que tem muito mais importância do que à primeira vista parece.
Trata-se da velocidade com que os automóveis atravessam as nossas ruas, dificultando o trânsito das mesmas, estropiando inofensivos animais domésticos e constituindo um perigo para a vida e para a integridade física do cidadão.
O assunto tão momentoso é que já foi tratado na câmara dos srs. deputados, sessão de 9 do corrente, em que o deputado sr. Carlos Calixto se ocupou da excessiva velocidade dos automóveis em Lisboa, o que não é só culpa da polícia, mas também, e principalmente, dos regulamentos, que permitem 20 quilómetros à hora nas povoações, ao passo que, em geral, não se pode exceder, no estrangeiro, 15 quilómetros.
Não se deveria permitir andamento superior ao de um cavalo a trote; mas, na Junqueira, e nas avenidas novas, os automóveis atingem 60 quilómetros à hora!
O sr. Alberto Silveira acha toda a razão em tais considerações e refere que o regulamento está de tal forma que não há meio de pagar multa, contando o facto curioso de certo cavalheiro querer pagar uma multa e não ser possível fazê-lo!
Acrescenta que até os próprios estrangeiros, assombrados com a velocidade dos nossos automóveis dentro da cidade, se arreceiam de nelas tomar lugar.
O sr. Carlos Calixto, continuando, insiste em pedir providências pelos ministérios do interior e do fomento, e refere ainda que está informado não terem, em geral, os automóveis de praça os dois travões regulamentares, pois não são munidos de alavanca. Assim fazem os “chauffeurs” para evitar o estrago dos protetores; mas isso representa um grave perigo.
O sr. Ministro do interior toma na melhor conta estas considerações que, por via do sr. Governador civil, já lhe haviam chegado ao conhecimento e, de acordo com o seu
colega do fomento, se ocupará de tão importante assunto.
Nesta ilha, emque os automóveis abundam, convém não descurarmos também tão momentosa questão, fazendo cumprir o regulamento existente, e castigando severamente os delinquentes, havendo ainda a acrescentar, como circunstância agravante, o facto da vertiginosa correria dos automóveis não ser devida ao desejo de aproveitar o tempo, sendo em geral as pessoas que menos trabalham as que mais depressa caminham, por luxo de épater o indígena, ou ainda para mostrar a sua perícia como chauffeurs.
  À polícia e à Sociedade Protetora de Animais está naturalmente indicado a correção destes abusos, que ninguém, dotado de bom senso e imparcialidade, poderá deixar de condenar.
Aos membros, pois, da útil corporação e aos beneméritos sócios da segunda, recomendamos este assunto.
҉
Depois de composto este artigo, contou-nos um cavalheiro da nossa amizade que na última quinta-feira, no Pópulo, um automóvel passou sobre um cão, deixando-o em lastimável estado, no meio da estrada, acudindo em volta do animal o rapazio do lugar, que começou a apedrejá-lo, congratulando-se com os gemidos lamentáveis do desgraçado quadrúpede.
Este repugantíssimo espetáculo, só próprio da Cafraria, teria sido evitado se se impusesse aos donos de automóveis que atropelam um animal, - sob pena de policia correcional – o transportá-lo imediatamente à esquadra de polícia cívica, que tomaria conta dele, chamando um veterinário que o tratasse, ou o matasse o menos dolorosamente possível em caso de incurabilidade.
Como está entre mãos do digno comissário de polícia, sr. Dr. António Franco, o Regulamento Policial relativo à proteção devida aos animais, chamamos a atenção deste funcionário para o facto que narrámos e foi presenciado por pessoas dignas de crédito.
Independentemente do sofrimento do infeliz quadrúpede, ante o qual ninguém deixará de se comover, temos ainda a considerar o facto pelo lado educativo.
Que há, com efeito, a esperar, sob o ponto de vista da moral e do sentimento, de cidadãos que, na infância, ao ver um animal contorcer-se, com os membros fraturados, se lembram de lhe suavizar o sofrimento…apedrejando-o? !!!
 E que ideia ficarão fazendo da índole deste povo os estrangeiros, naturais de países onde a proteção ao fraco constitui uma das bases da educação cívica e doméstica, que presenciarem cenas como esta?
Sabemos que na rápida fatura do Regulamento está interessado o ilustre chefe do distrito, e confiamos da poderosa intervenção de s. Ex.ª a absoluta cessação de tão deprimentes espetáculos, o que bastaria para tornar beneficamente profícua para este distrito a administração tão zelosa quanto competente da sua primeira autoridade.
(A Folha, nº 551, 22 de Junho de 1913)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Para que a vontade de Alice Moderno seja respeitada. Assine a petição




POR UMA NOVA POLÍTICA PARA COM OS ANIMAIS DE COMPANHIA

Sua Excelência Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, 
Suas Excelências Presidentes dos Grupos Parlamentares à ALRAA, 
Sua Excelência Presidente do Governo Regional dos Açores, 


Ex.mas/os Senhoras/es,
 

Vimos, através deste instrumento de participação cívica, apelar à classe política e governativa da Região Autónoma dos Açores para que seja criada legislação que se traduza na tomada de medidas no sentido de combater o abandono de animais de companhia e controlar as populações de animais errantes;
 Considerando que atualmente, nos Açores, são abandonados milhares de animais de companhia e que grande parte destes acaba por ser abatida nos canis ou Centros de Recolha Oficiais (CRO);
Considerando o contexto socioeconómico da região, onde muitas pessoas perderam emprego e apoios sociais e que têm dificuldades em cumprirem o pagamento de todas as despesas destinadas à sua sobrevivência com dignidade, o que tem levado a que aumente o abandono de animais de companhia;
Considerando que o abandono de animais é um problema humanitário e de saúde pública cuja resolução não pode depender, exclusivamente, do setor privado da atividade médico-veterinária, ou da boa vontade das Associações, amigos e protetores de animais;
Solicitamos que a Região Autónoma dos Açores tome as devidas medidas legislativas no sentido da promoção, por um lado, da esterilização dos animais errantes, como método eficaz do controlo das populações, e, por outro lado, do incentivo à adoção responsável.
Solicitamos ainda que, seja respeitada a memória de Alice Moderno, pioneira da proteção dos animais nos Açores, transformando o atual Hospital Veterinário Alice Moderno, em São Miguel, em hospital público, onde os animais temporariamente a cargo de associações de proteção ou de detentores com dificuldade ou incapacidade económica possam ter acesso a tratamentos a preços simbólicos. Nas restantes ilhas, a função do Hospital Alice Moderno poderia ficar a cargo de um Centro de Recolha Oficial.

sábado, 1 de setembro de 2012

Animais de Tiro



Sociedade Protetora dos Animais
Esta benemérita sociedade, ultimamente estabelecida em Angra do Heroísmo, atendendo a que é de muito difícil acesso para carroças de transporte de carga a rampa do cais da Alfândega, resolveu, obtida a respetiva autorização do sr. Presidente da Câmara, mandar deitar de conta da Sociedade, uma camada de areia no pavimento da referida rampa, o que se fará por ocasião da chegada dos vapores da carreira.

As torturas impostas por vezes aos pobres animais que ali fazem serviço, devido ao calcetamento estar muito moído e gasto e ao excesso das cargas que os obriga a beijar o chão, caindo sobre os joelhos, que muitas vezes esfolam, está pedindo uma outra ordem de providências que só com o tempo poderão ir sendo tomadas, visto a falta de recursos  com que presentemente lutam as corporações administrativas daquela ilha.

Em Ponta Delgada, nas proximidades da rua dos Mercadores, lado da Graça, existe também uma rampa muito perigosa para os animais de carga, que não raramente caiem e se magoam, sendo ainda em cima maltratados com pancadas pelos ignóbeis condutores que os exploram.

Para esse facto chamamos a atenção da digna Direção daquela benemérita sociedade, à qual cumpre oficiar à Câmara Municipal para que seja reparada aquela parte da rua dos Mercadores, que representa mais um passo no doloroso calvário dos muares indígenas.
(A Folha, nº 522, 21 de Novembro de 1912)